Da falta de água até ao desastre?

Da falta de água até ao desastre?

 

Dizia alguém, que “o ar que respiramos é tão importante como a água que consumimos”.

Acrescentarei que se todos soubessem, ou tivessem a perfeita consciência, do valor que a água tem para a nossa vida, não a subestimariam tanto e, consequentemente, não haveria tanto desperdício deste bem tão precioso.

Consciente desta realidade, entendeu, em boa hora, a ONU promover uma reflexão sobre a importância da água, no sentido de fomentar a consciencialização dos cidadãos para o consumo racional e comedido da mesma, já manifestamente escassa para as necessidades mais básicas do planeta, apesar de absolutamente essencial à vida.

Deste modo, foi proclamada, no dia 22 de Março de 1992, a Declaração Universal dos Direitos da Água. Neste sentido, foram inventariadas várias medidas, sugestões e informações, de largo alcance social e pedagógico, dirigidas, fundamentalmente, aos Governos, e população em geral, no intuito de despertar e acentuar a sua consciência cívica e ecológica, enquanto requisito de inquestionável dimensão no âmbito dos direitos fundamentais, inerentes a qualquer ser humano.

Perante a gravidade crescente da situação, com horizontes bastante sombrios, e comprometedores para o futuro da humanidade, tendo como pano de fundo a visível escassez de água, realizou-se em Março de 2019, na cidade da Praia – Cabo Verde, um fórum internacional onde o Director do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola afirmou que, caso não se tomassem medidas urgentes seriam, irremediavelmente, afectadas mais de 3,5 mil milhões de pessoas, com todas as terríveis consequências que se adivinham.

De sublinhar que a maior parte dos países africanos tem cerca de 37% de terrenos áridos do mundo, com todos os óbvios constrangimentos, como sejam desertificação e pobreza.

Debate-se, deste modo, o Mundo com um problema complexo, grave e delicado, pelo que urge abordá-lo com forte envolvimento de todos os responsáveis políticos, antes, como já parece vislumbrar-se, que o mesmo, pela sua importância vital, se transforme num indesejável teatro de guerra, e outros conflitos, à dimensão global. Neste contexto, já todos percepcionamos que serão sempre os mais fortes economicamente os vencedores, a exemplo do que se passa com o petróleo.

Apesar desta abordagem, bastante superficial, não permitir aprofundar um pouco mais esta questão tão séria, permito-me, no entanto, deixar mais uma referência exemplificativa que nos evidencia a latitude do problema e a gritante oportunidade de o tratar com verdadeiro sentido de equilíbrio e justiça.

Assim, e porque os números por vezes não enganam, acentuo que o nosso planeta é coberto em 70% da sua área por água, embora apenas 2,5% seja de água potável, comportando os restantes 97,5% de água salgada, que forma os oceanos, portanto imprópria para o uso agrícola, industrial e humano. Muito pouco para tanta necessidade e tão dramática procura!

Terminaria, enumerando alguns factores que considero serem os que mais contribuem para a falta de água no Mundo, como sejam: o crescimento global da população; a poluição por falta de saneamento, com a contaminação dos lençóis freáticos e os rios transformados em esgotos a céu aberto; o desmatamento das margens dos rios, com o consequente assoreamento; construção de hidroeléctricas que mudam o curso original dos rios e aumentam as superfícies de exposição das águas, com muito maior evaporação; os desperdícios e consumos excessivos, etc…

Enfim, pelo que se vê, muito há a mudar no contexto dos comportamentos humanos e do exercício de uma cidadania adulta e responsável, capaz de reflectir e enfrentar tantos dos constrangimentos que podem comprometer a sua felicidade e o bem-estar de todas as futuras gerações.

E a água constitui um factor estruturante de progresso e de sobrevivência, absolutamente prioritário, pela simples razão que sem água não existe, pura e simplesmente, VIDA.

Graciela Pinheiro
Voluntária da SMV