Dia Mundial do Solo (5 de Dezembro)

“Mantenha o solo vivo, proteja a biodiversidade do solo”

 

Por vezes, o que está mais à vista é o que menos se vê. É o caso da importância do solo? De facto, há hoje uma “guerra surda” pelo solo, mas pouco ou nada aparece nas notícias.

Ao processo natural da erosão, juntam-se os efeitos da desmatação e da desflorestação e das agriculturas intensivas impróprias para os solos em que são efetuadas. O aviso da FAO é dramático: “A cada 5 segundos, o mundo perde uma quantidade de solo equivalente a um campo de futebol”. Fazendo as contas: perdemos 17.200 campos de futebol por dia. Quantos por ano?

Justifica-se, então: a Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu, em 2013, o dia 5 de dezembro como Dia Mundial do Solo. Para este ano, o lema é “Mantenha o solo vivo, proteja a biodiversidade do solo”.

O aquecimento global provoca, por um lado a seca de muitos solos, por outro a subida da água do mar, de que resulta que muito solo fica submerso e muito outro fica salinizado, logo impróprio para a produção agrícola. Além disso, muita da agricultura intensiva que se faz esgota o solo e parte para outro, deixando atrás de si um rasto de improdutividade. Fica, para as grandes companhias, mais barato explorar à bruta (não há outro nome) que usar de modo sustentável. Mais barato porque são outros que vão pagar a fatura. E quem são esses outros? São sempre os mesmos: os mais pobres, os mais frágeis, os mais dependentes.

Num tempo em que tudo se compra no supermercado, esquecemos que o solo é um recurso estratégico da nossa sobrevivência. Sem solo não há comida no prato. Por isso mesmo, há hoje uma corrida, uma guerra, pela posse de solo produtivo. Guerra não tanto pela conquista armada de novos territórios, mas pela compra agressiva dos melhores solos por parte de grandes empresas, muitas vezes estatais ou para-estatais. A China tem sido uma das maiores compradoras a nível mundial, tanto de solo arável, como de solo rico em produtos minerais.

Não devemos esquecer que todos os dias é necessário alimentar mais de 7,2 mil milhões de pessoas que habitam o planeta. E o solo faz parte do sistema vivo que alimenta essas pessoas, mas também todos os seres vivos que são parte integrante do ecossistema global. Cada “campo de futebol” a menos é um passo em frente num processo de estrangulamento – à distância para muitos, mas bem próximo também para muitos. Por isso, o processo das migrações promete ser cada vez mais intenso, enquanto não alterarmos o nosso uso do solo.

E é importante recordar o que já sabemos – embora um saber esquecido – o uso do solo começa no nosso prato: a forma como comemos e a comida que desperdiçamos têm impacto direto sobre o uso que a nível global é feito do solo. É dramático mas é verdade: para que eu tenha comida no prato, há pessoas que ficam sem comer, sem casa, sem solo. Hoje.

José Alves Jana
Voluntário da SMV