Academia de Futebol Yekine GB
Encontrámo-nos muito superficialmente em Bissau. À distância, quisemos saber mais sobre Yekine e o seu projecto, uma academia de futebol – que vale a pena conhecer.
A Guiné-Bissau é um país pobre, onde as estruturas que podem criar futuro ainda estão sobretudo ausentes. Mas há múltiplas iniciativas a fermentar. Yekine é um homem que meteu mãos a essa obra – criar futuro – mesmo que os seus recursos sejam muito pequenos. Ele faz o que pode, ou mais do que pode, no bairro do Enterramento, em Bissau. Vamos espreitar, apenas espreitar por uma frincha.
Quem és, Yekine?
Chamo-me Yekine Levante Gomes, tenho 30 anos de idade. Tenho formação média na área de gestão bancária e em língua inglesa, e também tenho o curso intensivo na área de canalização. Trabalho como recepcionista num dos hotéis de capital.
E diriges uma academia de futebol, que se chama…
Academia de Futebol Yekine GB. “A.F. YEKINE GB”. Coloquei o meu nome, porque sou o dono e fundador da Academia e faço quase tudo para que a vida da Academia continue da melhor maneira. A Academia foi fundada por mim e trabalha desde o ano 2012. Ou melhor, começámos a fazer o trabalho mais sério a partir do ano 2012. Antes costumávamos treinar somente na época da chuva para entrar o campeonato do defeso (campeonato que se realiza na época da chuva). Significa que começámos a fazer o trabalho mais sério de 2012 até hoje – oito (8) anos! Faço o trabalho de treino com os miúdos para lhes mostrar a forma de jogar a bola e além disso trabalhamos no aspecto psicológico.
É, portanto, um clube desportivo?
Não me limito a fazer o trabalho da bola, mas faço um trabalho geral, não só formar o jogador da bola, formamos também o homem. De dentro o homem sai jogadores de bola, médicos, professores, etc… e mostrar os melhores caminhos de conseguir o futuro melhor e tentar revolucionar o futebol mundial.
Porque fundaste a Academia?
Para ajudar os atletas a ganharem a vida através de Futebol, e para evitar que entrem no banditismo.
Como é que os vossos atletas ganham dinheiro?
Os nossos atletas ganham dinheiro quando chegam à Europa, através de um contrato profissional. A partir daí começam a ganhar. Aqui a gente faz treinos ou prepara os atletas para procurar uma saída.
Quais são os vossos objetivos? É só manter uma equipa de futebol?
Um dos objectivos é transformar o projeto da Academia num projeto maior, transformá-lo num clube, num projeto social ligado a educação
Quantos atletas praticam na Academia e de que idades?
São 130 os atletas, com idades dos 10 aos 20 anos. Temos cinco (5) camadas de formação: escolinhas (30), infantis (25), iniciados (25), juvenis (25) e juniores (25).
Qual o teu papel hoje, na Academia?
A Academia é dirigida por mim, Yekine Levante Gomes. Na Academia, sou o vice-presidente e treinador. O presidente é o Sr. Joaquim Mendes Pereira, o meu sogro. Eu fiz a proposta de cargo para ele e aceitou. Eu trabalho com os outros quatros treinadores: Tigana Silva Santos, Figo Filipe, Armandinho Sanca e Agosto Correria. Três dos treinadores foram antigos jogadores da Academia.
A vossa preocupação é só com o futebol ou vai além disso?
A maioria dos jogadores que treinam na Academia estão no centro da capital [Bissau] e são obrigados a ir à escola.
Costumamos dar prémios para os melhores jogadores no final da semana. Os prémios são materiais escolares e desportivos, mas acontece mais com matérias de oferta. Noutras vezes eu arranjo os materiais para oferecer aos miúdos. Como sabem, aqui, na Guiné-Bissau, é muito difícil que alguém apoie o desporto, concretamente o futebol. A maior parte dos materiais de treino, e não só, que conseguimos, são de estrangeiros. A Academia está em fase de legalização e já temos os documentos em andamento. Só que até agora ainda não conseguimos legalizá-la por causa do dinheiro. O espaço onde academia costuma treinar é um espaço provisório que pertence antigo hospital Centro mental.
Os beneficiários do projeto são os miúdos da Academia. Eu faço tudo para eles. Até os que não têm a condição para estudar, eu assumo pagar a escola para eles. Mas não tenho apoio nenhum. Apoio financeiro, nunca.
Quanto custa legalizar a Academia?
Não ultrapassa uma soma de 500. 000 xofs [ou francos CFA], o que equivale a 770€.
Como é que a Academia consegue manter-se? Com que recursos?
Consegue manter-se graças a Deus. Eu, os treinadores que estão comigo e com o presidente, decidimos não desistir de trabalhar, apesar de a situação não estar nada fácil. E contamos com alguns apoios de materiais de treino da parte dos meus amigos. Eu costumo guardar uma parte do meu salário, apesar de não ser um bom salário, para arranjar o mínimo de materiais para Academia e também para garantir o transporte quando temos jogos com outra academia.
Bom trabalho, Yekine.
Recolha por José Alves Jana