DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA (5 de maio)

Celebrar a Língua Portuguesa não pode ser apenas fazer um brinde

 

Não há dúvida: a Língua Portuguesa é uma das grandes línguas da atualidade. Nela se expressa o poder criador na comunicação, na literatura, na ciência, na filosofia, na religião, no humor, enfim, em todas as modalidades da criação em linguagem verbal. E através dela temos acesso a um imenso património disponível em livros e revistas, mas também na internet, sem esquecer as canções, os filmes, a rádio e várias outras formas de difusão e arquivo.

Lembremos que a Língua Portuguesa começou por não existir e, para chegar ao que é hoje, foi necessária a criatividade e a disciplina organizadora de quantos a falaram, escreveram e estudaram. Esse trabalho está ainda e sempre na agenda das pessoas e dos povos que têm na Língua Portuguesa a sua forma de pensar, comunicar e procurar o que querem saber. Uma língua, qualquer língua, é uma espécie de organismo vivo, sempre, portanto, sujeito às contingências da vida.

Importa lembrar que a Língua Portuguesa é a língua de todos os que a falam e a usam, de todos os povos e países que a têm como sua. A cada um deles cabe defendê-la e produzi-la, pois uma língua está sempre em processo de criação ou de definhamento. Há, portanto, quer nos demos conta disso, quer não, uma comunidade interdependente de falantes da Língua Portuguesa. E é bem melhor que essa comunidade se reconheça como tal e coopere no que é, de facto, um trabalho de todos.

Contudo, importa não esquecer que celebrar o poder criador e a grandiosidade do património a que a Língua Portuguesa nos dá acesso, não significa – não pode significar – a desvalorização de qualquer outra língua. Em particular, dos crioulos e mesmo das línguas das várias etnias que compõem os países da língua oficial portuguesa. Cada língua é uma expressão única do poder criador das coletividades humanas. Cada língua tem poderes que as outras não têm, em particular o de dar-nos a alma de um povo. Se é da maior importância “salvar” um instrumento de trabalho, um documento escrito ou uma edificação com valor histórico, é também decisivo “salvar” de cada língua pelo menos a memória possível, uma vez que muitas delas estão em vias de extinção. Morrem, em média, duas línguas por mês, uma perda irreparável. Interessam-nos, em particular, as línguas nativas que se encontram ameaçadas no espaço lusófono. É importante afirmá-lo no momento em que celebramos a Língua Portuguesa.

Celebrar a Língua Portuguesa não pode ser apenas fazer um brinde com espumante ou com palavras borbulhantes. Estes atos perderão o seu valor se não forem sustentados no trabalho continuado de defesa e criação das possibilidades da Língua. Por isso, celebrar a Língua Portuguesa é convocarmo-nos para esse trabalho e afirmarmos o nosso compromisso para essa tarefa comum. Dia após dia, ano a pós ano…

José Alves Jana

Voluntário da SMV