O Encontro Nacional de Estudantes e Mentores Mentoring Ser Mais Valia 2024, realizado a 28 de setembro, foi como um regresso a casa à renovada Universidade de Aveiro, onde decorreu o primeiro encontro do Mentoring, em 2018. Além dos reencontros e abraços e a possibilidade de networking e criação de novas redes de contactos, esta iniciativa anual pretende apresentar resultados e promover o debate para perspetivar o futuro.
“Foi um percurso feito de sonhos, desde as expectativas iniciais aos desafios após a conclusão do percurso académico”, referiu o presidente da Associação, Lincoln Justo da Silva, na sessão de abertura. No balanço do projeto Mentoring SMV, a coordenadora Ana do Carmo Lopes referiu que durante os sete anos de caminho com os estudantes 43 estudantes concluíram o seu ciclo de estudos académicos. Este apoio a estudantes do ensino superior, oriundos dos PALOP, vocacionado para promover o aumento do seu sucesso académico e inserção nos contextos social, cultural e académico, integrou 103 estudantes no ano letivo de 2023/2024, dispersos por 12 estabelecimentos do ensino superior no país e foi desenvolvido por 46 mentores e amigos. Terminaram o seu ciclo de estudos 23 estudantes: 12 licenciaturas, 9 mestrados, 1 doutoramento e 1 curso técnico-profissional.
Casos de sucesso e parcerias reforçadas
Como “boas notícias” anunciou que dois estudantes, que integraram o projeto, obtiveram uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). N´Cak Morgado, está de regresso a Portugal para iniciar o seu doutoramento em Ciências da Educação. Vasco Ialá, vai prosseguir o seu percurso académico com o doutoramento em Ciências da Vida e Saúde. Outra boa notícia é a reedição do prémio «Esperança em Ação», uma parceria entre a Associação AMU – Ações para Um Mundo Unido, a Revenue Precision e a SMV, para apoiar estes jovens universitários, com mérito académico e participação cívica, na aquisição de material informático.
Como testemunharam vários dos mentores e estudantes presentes este processo de dar e receber é mutuamente gratificante, além de se tratar de um “processo em permanente construção”.
Construir um caminho: das expectativas iniciais aos desafios após a conclusão do percurso académico
Na segunda parte da manhã, com moderação de Ângelo Soares, tomaram a palavra as três estudantes que constituíam a mesa e que integram o Conselho Consultivo do Mentoring, o órgão que pretende representar a voz dos estudantes nesse caminho em construção.
A sessão contou com a participação de um auditório cheio. Laura Cunha, estudante de Medicina da Universidade do Porto, lançou o debate sobre quais eram as expectativas antes da partida: “o percurso começa ainda na Guiné, quando construímos os nossos sonhos”. Laura quer ser médica e “não imaginava o difícil que ia ser.” A chegada tardia a Portugal, já depois do arranque do ano letivo e o facto dos estudantes não estarem presentes nessa fase importante do acolhimento ao caloiro é um constrangimento. “É difícil integrar os grupos de trabalho que já estão constituídos, para não falar da integração social e cultural, em que as diferenças são imensas. Não sentimos o apoio dos colegas na faculdade. Por parte dos professores, alguns pressupõem que sabemos tudo!”
Essa persistência e sacrifício é aliviada com a presença de um mentor à chegada ao aeroporto, testemunharam alguns estudantes na plateia. Com efeito, acontece esse choque inicial com os primeiros trabalhos e as primeiras notas, bem como a dificuldade em perceber quais os recursos disponíveis na universidade. É nessa altura que a ajuda dos colegas estrangeiros dos PALOP também é determinante para a integração daqueles que chegam. Jessica Mendes, licenciada este ano pela faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, referiu tratar-se de um processo contínuo com desafios, mas também conquistas. Porém, reconheceu as dificuldades iniciais nas tecnologias, no inglês e na língua portuguesa.Também aí, a ajuda dos mentores e amigos da Ser Mais Valia se revelou fundamental para ultrapassar essas lacunas.
Sani Gomes, licenciada em Biologia pela Universidade de Lisboa, e já com os olhos postos no futuro, deixa alguns inquietações para reflexão conjunta: “Vamos desistir da Guiné? Vamos deixar de dar o nosso contributo e não aproveitar essa oportunidade de assumir um papel fundamental no desenvolvimento do nosso País com as qualificações que adquirimos? Qual o sentido da bolsa que o Instituto Camões nos deu? Ainda é possível concretizar os sonhos dos nossos avós? Não podem fazer por nós, temos de ser nós a agir, façamos algo por nós!
Este espírito de serviço e as motivações para voltar deram eco aos testemunhos sentidos de Vladimir Augusto Djata e Ronaldo Mendes já com datas marcadas de regresso. Porém, o Aba Sanhá, lembrou que estas motivações não devem ser impeditivas de estar em qualquer parte do mundo onde o seu conhecimento seja reclamado.
Tivemos o prazer de contar com as presenças dos representantes de três associações de estudantes. A associação de estudantas guineenses: Florbela Gomes. E as associaçãos de estudantes cabo verdianos, Gelson Moreira e de estudantes angolanos, Jedeonísio Muachifi. Partilharam os seus testemunhos emocionados sobre os seus percursos. Realçaram a importância do papel desempenhado por estas organizações no acolhimento e acompanhamento de estudantes das respetivas comunidades. Ficou no ar esta ideia de estreitamento das ligações entre as várias associações de estudantes e destas com as suas universidades.
Língua portuguesa e intercâmbios culturais
A convite da organização do Encontro, o professor António Pereira, privilegiou-nos com uma Visita Guiada ao Interior do Livro da Língua Portuguesa – Aprenda Você mesmo (a)! A publicação digital de acesso livre é apresentada pelo próprio nesta edição da newsletter. Contou com a colaboração do associado José Luz na revisão da formatação e na aplicação de recursos informáticos.
O Encontro continuou em beleza, com um excelente momento musical protagonizado por José Paulo Indi acompanhado por Ermano Nhaga. O José Paulo Indi, com percurso na área da música já tem provas dadas através da sua participação em vário projetos muscais. Como músico, toca baixo na banda do cantor guineense, Kimi Djabaté, reconhecido mundialmente na área da worl music.
O dia terminou com chave de ouro com uma visita guiada ao Museu de Aveiro – Santa Joana, padroeira da linda cidade de Aveiro. O Museu está instalado no antigo Convento de Jesus da Ordem Dominicana feminina. Merece bem uma visita, com destaque para o coro interior com o túmulo da Princesa Joana. Veja aqui: Museu de Aveiro-Santa Joana