Missão Mulheres Africanas em Portugal

Já vai no segundo ano esta missão que envolve Mulheres Africanas em Portugal, no bairro Moinho das Rolas. A segunda fase deste projecto teve início em Outubro de 2018 e terminou a 19 de Junho último.

A missão contempla três vertentes: Língua Portuguesa (voluntários Isabel Amorim e Raul Leal), Movimento e Dança (Isabel Bettencourt), e Introdução à Informática (M. Lurdes Pedra e Alexandre  Silva). Esta é, sem dúvida, uma missão muito especial pois as interlocutoras são um grupo de mulheres africanas de idades superiores a 55 anos – mesmo de acordo com a nossa Associação S.M.V. – que nunca frequentaram a escola nos seus países de origem, e com uma vontade enorme de saber mais, de ler e escrever a sua assinatura, mexer mais o corpo e contactar com os computadores.

As aulas de Português, com a moderação do Raul e minha, são muito intensas; com mistura de gargalhadas e aplausos pelas pequenas conquistas: escrever o nome completo, ler palavras soltas, descobrir a frase, compreender uma história, repetir lengalengas e trava-línguas. Todos os caminhos servem para chegar à leitura de uma forma muito vivida e muito relacionada com o quotidiano das suas vidas. O processo é lento e cheio de recuos e avanços, mas os resultados são notórios e a missão precisa de continuidade.

O Raul refere sempre a componente social desta missão como sendo uma fatia muito importante da mesma pois trabalhamos com mulheres que vivem num certo isolamento, com filhos e netos longe, algumas a viverem sozinhas.

A Isabel Bettencourt fala das aulas de Movimento e dança:

“…o grande objectivo das actividades desenvolvidas nesta área é, e será por muito tempo, dotar as senhoras de uma maior capacidade aeróbica e de boas posturas, facilitando-lhes assim as tarefas do dia a dia e retardando, na medida do possível, os efeitos da idade.

As aulas decorreram num ambiente alegre e descontraído, sempre com muita música e de todo o género pois a questão da multiculturalidade era um dos objectivos – a dança e a música são por si só transversais. As nossas «jovens» estiveram sempre muito bem-dispostas e disponíveis para qualquer proposta nova. Como professora destas excelentes alunas posso afirmar que foi sempre muito gratificante liderar a classe».

A M. de Lurdes e o Alexandre destacam estes aspectos do seu trabalho enquanto formadores de Introdução à Informática:

«A alegria e o empenho em participar, a conquista do conhecimento das letras do abecedário. O entusiasmo e empenho no desenvolvimento de tarefas: cópia e leitura de frases projectadas e conclusão dos jogos abertos pelos formadores.

Ainda não foi possível transmitir os conhecimentos básicos de Informática dada a iliteracia das alunas envolvidas.  A missão deve continuar reforçando-se o processo de leitura e escrita. Combater a iliteracia e a infoexclusão destas mulheres e torná-las, ainda, mais sábias, foi um privilégio.»

Resta concluir que esta MISSÃO: «MULHERES AFRICANAS EM PORTUGAL» tem muito trabalho pela frente pois os resultados obtidos ainda são mínimos, mas a vontade das alunas e a sua empenhada alegria nas aulas compensam todas as frustrações que, por vezes, sentimos. Para elas estes momentos de descoberta e de partilha são uma mais valia contra a solidão de um dia a dia nada fácil.

 

Isabel Amorim