4 perguntas a Quitéria Torres

Quitéria Paciência Torres, Mãe Quitéria, como é chamada na Casa do Gaiato de Maputo pela sua total dedicação aos rapazes e ao trabalho que ali desenvolve.

Mãe Quitéria dirige a Casa com o apoio de uma equipa de voluntários e ex-gaiatos, num trabalho árduo e com grandes necessidades.

Desde 2017 a Ser Mais valia colabora com a Casa e posteriormente tem vindo a apadrinhar rapazes que se encontram na fase final do secundário.

O lema de Mãe Quitéria é, em palavras suas: «…o meu coração e toda a minha vida estão com eles.»

 

1 – Quitéria, colaborou com o fundador da Casa do Gaiato de Maputo e, após o seu falecimento, assumiu a direcção da Casa. É um trabalho muito difícil de levar a cabo?

 

Colaborei com o fundador da Casa do Gaiato de Maputo desde 1986, quando ainda trabalhava no Brasil. Aqui em Moçambique trabalho desde a fundação desta Casa em 1991. Viemos juntos, éramos 6 na equipa. Assumir a Direcção desta Casa é muito difícil, papel que nunca quis aceitar. Sinto-me bem sendo mãe e isto para mim é o suficiente, mas por motivos de força maior estou nesta função e com muito desejo que seja por pouco tempo. Uma Casa do Gaiato tem uma estrutura muito complexa e não é possível assumir esta função em PAZ. Mesmo porque a própria Obra é “de rapazes, para rapazes e pelos rapazes”. No momento em que entram nesta Casa passam a fazer parte desta família, sinto-me mãe deles. O meu coração e toda a minha vida está com eles. Conheço cada um pelo nome e a sua origem e vivo as dificuldades de cada um, o sucesso e o insucesso, tentando formas de ajudá-los na medida do possível. Estar numa Casa destas e não se sentir família, não vale a pena.

 

2 – Temos conhecimento de que é muito dedicada à casa do Gaiato e aos rapazes que nela vivem. É uma mãe para eles. É por essa razão que é tratada por Mãe Quitéria? Como é o seu trabalho com eles?

 

Quanto ao trabalho, tento estar com eles a maior parte do tempo, orientando todos os passos com o apoio dos mais velhos. O respeito pela identidade de cada um é fundamental e isto em algum momento é muito difícil pois a cultura, as experiências vividas antes da chegada a esta Casa, a falta de acompanhamento durante a primeira infância é algo que os marca muito. Para alguns precisamos de menos tempo para ganhar esta confiança, mas para outros precisamos de mais confiança e abertura para que cada um possa sentir-se bem.

 

3 – Actualmente quantos rapazes são apoiados pela Casa e quais as suas obrigações?

 

Internamente temos 158 rapazes, pois os mais velhos que estavam para sair tiveram que ficar para apoiar os mais pequenos nos estudos e no dia-a-dia da Casa. Externos, temos os que estudam, os que fazem formação profissional e outros em Famílias de Acolhimento, pois precisam de um acompanhamento especial e outros na Integração Familiar a continuar os estudos mas que ainda precisam do nosso apoio. Externos são 65. E não tem sido fácil garantir o básico para todos.

 

4 – A associação Ser Mais Valia apadrinhou e apoia rapazes da Casa. Esse apoio é importante e essencial para poderem progredir nos estudos?

 

O apoio da associação Ser Mais Valia é muito importante para o acompanhamento dos nossos rapazes. Costumamos dizer que são “Filhos de Ninguém” e nós não somos capazes de fazer este trabalho sozinhos. O apoio da associação tem sido em fundos mas também em ouvi-los e fazê-los perceber o quanto é importante aproveitar as várias etapas e oportunidades que a vida lhes apresenta.

 

Obrigada por todo carinho que sentem pelos nossos rapazes.

Cumprimentos respeitosos.

 

Quitéria P. Torres

 

 

Recolha por Isabel Amorim

Voluntária da SMV