Em Cabo Verde

4 PERGUNTAS A… Leonida Milhões*

1- Leonida, és mãe de quatro e avó de quatro, tens raízes transmontanas e um percurso de vida muito intenso: ensino, associativismo, voluntariado cá e fora do país, variados projetos na área da língua portuguesa. O que te move e o que queres realizar mais?

Sou mãe de 4, avó de quatro, sogra de dois e, se não há sogras perfeitas sei que também não há mães nem avós que o sejam. Tento, isso sim, fazer o melhor possível sempre e em cada circunstância dedicando à família e à vida profissional todo o meu tempo. Move-me a vontade de crescer, conhecer, aprender, partilhar… acreditando que a cidadania pessoal se vive na responsabilidade coletiva.

Move-me a curiosidade, não gosto de ser espectadora da minha vida e, correndo o risco de errar, prefiro estar presente em todas as suas etapas. Quero estar atenta a novos desafios, acompanhar o crescimento dos netos, ser útil e ajudar, mas, acima de tudo, ter a capacidade de em cada dia ver um recomeço.

 

2- És associada da SMV e já partiste duas vezes em missão – foi a ideia de partir que mais te atraiu na nossa associação?

Antes de ser voluntária da SMV, fiz, com apoio da Fundação Salesianos, missão em Timor-Leste e em Cabo Verde. Candidatei-me a voluntária SMV respondendo, à última hora, a um desafio que me veio parar às mãos por mero acaso. Todo o processo de seleção fez-me conhecer um campo de trabalho que estava longe de ser “entretenimento para seniores”.

Atraiu-me a vontade de “ser mais valia”, de ir em frente e de inovar integrando um grupo onde o eu dá lugar ao nós, na vez de idade há vontade e o sucesso é de todos.

Partir é muito gratificante e, sendo “uma gota” o que fazemos, nada fica igual após cada missão, por isso a ida à Guiné será sempre um marco muito importante da minha vida.

 

3- O que é que essas missões te acrescentam ou de que forma mudaram a tua vida ou o teu olhar sobre ela?

Cada dia é um acrescento. Por isso, quanto mais completos eles são, mais valem para nós e para aqueles com quem os partilhamos. Conhecer novas pessoas, suas culturas, seus interesses, sonhos e vontades faz-me repensar valores, tempos, necessidades e prioridades.

Partilhando saberes aprendemos a recomeçar e a ir para mais longe porque vamos juntos. Em paralelo damos conta das nossas limitações que nos fazem procurar caminho para as superar, desvalorizar ou aceitar. Cada dia é uma nova missão e cada missão é um desafio aceite com curiosidade e algumas dúvidas.

Nos caminhos desconhecidos encontramos novos amigos, novas tarefas e a certeza de que acrescentamos a vida uns dos outros, enquanto aprendemos a aprender e a desaprender para aprender de novo.

 

4- O teu apelido Milhões é portador de uma carga extraordinária – és neta de um homem marcante, cuja vida já deu um filme. De que forma esta referência é importante na tua vida?

É na família que aprendemos as primeiras e mais duradouras lições, por isso todos os que me acompanharam foram importantes e deixaram marcas. Meu avô, como todos os avôs, também deixou algumas junto com o nome que uso com gratidão e ciente da responsabilidade que acarreta. Partiu no início da minha vida como professora (1970) e dele recordo: o carinho, o tempo, a cumplicidade, os conselhos, os valores: trabalho, partilha, dignidade, acolhimento, altruísmo, lealdade, resiliência…

Em jovem com o avô

Soube que as histórias não são todas iguais: umas são reais, outras são desafios e algumas trazem lembranças e emoções.

Num tempo de ser neta, aprendi que as nossas atitudes e decisões têm sempre consequências e que a família reunida à volta da mesa, após a Missa de Domingo, ou à lareira, nos longos serões de Inverno, é a escola onde mais se aprende e se cresce como pessoa.

Hoje, tempo de ser avó, dizendo «bem-hajam» aos que já passaram, abro a arca das memórias para ensinar aos meus netos o valor de «pequenos nadas» que nos ajudam a ser quem somos e a não esquecer os cheiros, os sons, os sabores, as palavras ou os lugares que os vão habitando.

«Os que passaram por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.»

Antoine de Saint-Éxupery

 

 

*Leonida Milhões, professora com uma vida dedicada ao ensino da língua portuguesa – em Portugal e noutras paragens. Transmontana orgulhosa das suas raízes e da sua prole, inquieta e curiosa do mundo: voluntária, activista, coordenadora de múltiplos projetos e quase a partir para uma nova missão da SMV. Um excelente exemplo de uma voluntária SMV.

 

 

 

Recolha de

Isabel Amorim
Voluntária da SMV