4Perguntas a … Lurdes Silva*

1-Lurdes, és uma associada fundadora da associação Ser Mais Valia ( SMV ) e vens do projeto inicial da Fundação Calouste Gulbenkian. O que é que te convocou para este projeto e o que é que te mantem nele?

Sempre considerei que o tempo da reforma é o espaço para concretizar os sonhos de uma vida. E nunca entendi o desaproveitamento das pessoas mais velhas, com saúde e sonhos. Quando me reformei, aos 65 anos, tentei criar ou integrar projetos de voluntariado na área da alfabetização. Fui até S. Tomé, primeiro como turista em 2012, e aproveitei para expor o meu objetivo. Voltei, meses depois, para um projeto entretanto arquitetado com a Diretora de Educação de Jovens e Adultos, do ME de S. Tomé. Mas o governo mudou e fiquei um mês à espera da decisão, e… não pude esperar mais e regressei. Soube então do Projeto da FCG, que se encaixava no meu sonho, e candidatei-me. Oito anos depois, continuo a acreditar na SMV porque aposta em projetos de envelhecimento ativo.

2-Tens fortes ligações africanas, nasceste e cresceste em Moçambique e já estiveste em missão da SMV na Guiné. Sentes que África está inscrita em ti e que isso se reflete nas tuas escolhas de voluntariado ou outras?

África está em mim, mas também me sinto em dívida para com África. Saí de Moçambique aos 17 anos para continuar estudos em Portugal – éramos colónia portuguesa… e lá não havia universidade… Depois é o percurso duma jovem que se casa a meio do curso, e, quando acaba, parte com o marido e filhos para Angola à procura de futuro, fugindo ao fantasma da Pide…

3-Foste professora de inglês e alemão, trabalhaste na área da alfabetização – uma paixão tua -, adoras ler e os livros fazem-te falta. De que forma pudeste colocar em prática esses gostos e na tua experiência na SMV?

Fui, durante 40 anos, professora, tanto em Angola como cá em Portugal, e fiz alfabetização em Angola (1974/75) e cá até 1979, método Paulo Freire. Participei em encontros e Congressos sobre Paulo Freire mas não  tive mais oportunidades de alfabetizar. A alfabetização é uma porta aberta para o mundo e ‘provocá-la’ um prazer. Estive na Guiné em missão na área da língua portuguesa, que é, também, o meu mundo. Senti-me a contribuir, (embora apenas com uma gota), de alguma maneira, para melhor futuro. E, pessoalmente, foi desafiante e enriquecedor.

4-Estamos no último mês de um ano duro, mas durante o qual a SMV conseguiu concretizar projectos e abrir caminho para um novo – EscritAFRICANDO- , do qual foste parte activa na sua construção. Que retiraste desta experiência e qual a importância deste novo projeto para a SMV?

Ler é indispensável para a minha saúde e senti que o EscritAfricando vinha ao encontro do desejo de tantos jovens africanos que encontram no escrever o seu equilíbrio. Gostei muito de estar no arranque duma iniciativa que tem futuro. E, agora, para a frente, há muito a fazer. E, tal como o nosso grupo de trabalho disse – Uma   literatura viva, forte, florescente, é uma riqueza coletiva. Em boa hora este alargamento de atividades da SER MAIS VALIA, que se insere nos nossos objetivos.

 

*Lurdes Silva, voluntária e associada da SMV.

A sua área é o ensino – inglês e alemão e a língua portuguesa. A sua paixão maior são os livros e a leitura.

Discreta, atenta e muito valiosa.

 

 

Uma recolha de Isabel Amorim
Voluntária SMV