8000 km em 80 dias – Amadrinhando Zélia

Algures, há mais de 16 anos, tive conhecimento da forma de apadrinhar meninas da Casa do Menino Jesus, na Manhiça, Moçambique. Foi através da TESE, no seu programa Ser Humano, que conheci o projeto para cianças órfãs e vulneráveis. 

Fiz-me madrinha da Zélia, uma menina atenta, curiosa, boa estudante, apesar das dificuldades em que foi vivendo.  Todos os anos lhe escrevia e recebia os seus resultados académicos (sempre com sucesso). Em 2005, fiz-me ao caminho, e fui visitar a Casa onde a Zélia e bastantes outras meninas eram ajudadas a crescer.

Conhecer a Zélia foi lindo! Mas ela queria exclusividade na minha atenção. Levei-lhe um livro que achei adequado…”Carta a minha filha” de Maya Angelou. Desde que o recebeu, não mais o largou… talvez depois de o ler, o tenha partilhado com as irmãs da Casa.

Deixo aqui fotos desse dia inesquecível, em que também conheci a Casa, a irmã Angelina, gestora da casa, o Fábio, orientador dos estudos das meninas, e acompanhei o modo de se viver naquela casa.                  

Na 2ª foto vê-se a Irmã Angelina, a Zélia (sempre de mão dada comigo).Fui mantendo contacto, identificando necessidades da Casa, que procurava suprir na medida do possível… lençóis para todas as camas, evitando assim que as meninas dormissem em cima de plástico, cortinas de duche, aumentando a privacidade no duche das meninas mais crescidas, apoio na reparação dos computadores existentes e não funcionantes…

Fui mantendo a proximidade possível, sempre de acordo com as minhas disponibilidades, e mantive as visitas à casa… Sempre a Zélia mantendo o seu ninho perto de mim.

Na ultima visita, conjuguei com as cerimónias religiosas delas na igreja, comunhões, crismas, e uma linda missa, bem ao modo africano, com cantares e danças dentro dos cânones religiosos e a alegria de os viver em África.

Eis que o tempo passou, a menina se fez mulher (bonita, como sempre!) mas agora terminando os seus estudos. Estudou ação social, e está a trabalhar na Klandlelo, “retribuindo” o que recebeu.  Aqui está  entregando o diploma a seu pai, um homem orgulhoso, que na véspera da festa religiosa, me perguntou quando a trazia comigo para Portugal. Aí tive de lhe esclarecer a diferença entre amadrinhar, apoiando-a e mantendo-a no seu lugar de origem, e afastá-la do seu mundo… onde teria ficado esse olhar feliz, e o sorriso cheio?

Em 2018, de novo na minha terra, Moçambique, respondendo ao apelo da “Ser Mais Valia” para contacto com a Khandlelo, hoje parceira do projeto daquela organização, tive o prazer de me encontrar com o lider Domingos Chissano. Fiquei a saber que a Zélia trabalhava aí no Serviço Social.

E ela mandou-me esta foto, com a seguinte legenda: “Madrinha ensinou me a gostar da leitura hoje é a minha paixão.”

Muitas sementes frutificaram nesta terra fértil, coração de uma criança, hoje mulher bonita, guerreira e carinhosa. E Poeta! Dando aos outros o que recebeu de tantos. Ser voluntário é amadrinhar o futuro

Obrigada, Zélia, Khandlelo, Tese e Ser Mais Valia!

Ana Paula Correia