Quando pedi a minha aposentação antecipada, estava longe de imaginar que havia uma nova vida à minha espera!
Por acaso, descobri a SMV, que tinha acabado de ser criada pela Fundação Calouste Gulbenkian como uma associação para maiores de 55 anos e, num ápice, vi-me integrado na primeira bolsa de voluntários, com o privilégio de ter beneficiado de uma formação interessante e enriquecedora que continua a nortear a minha ação como voluntário no terreno.
Pouco tempo depois, em 2014, a primeira missão, em São Tomé e Príncipe, alojado com os Leigos para o Desenvolvimento e integrado nas comunidades locais. Apesar dos contratempos e de um ou outro momento mais difícil, parte do meu coração continua lá, bem no Sul, no distrito do Caué, o mais pobre do país.
Seguiram-se outras missões, todas no país onde estou neste momento: a Guiné-Bissau.
Depois de um trabalho para a Cooperação Portuguesa (CP), que consistiu na preparação do inspetores e formadores para a orientação de ações de formação de língua portuguesa, nas várias regiões, com um manual criado para o efeito, seguiu-se a formação de funcionários da AIGB (Associação Industrial da Guiné-Bissau), no âmbito de um protocolo estabelecido entre a CP e a SMV.
Na terceira parte do meu trabalho, correspondendo a um pedido do adido da CP, e envolvendo também a SMV, está a ser organizada uma coletânea representativa do trabalho que aqui desenvolvi, desde 2016, sobretudo com a administração pública guineense, com os estudantes com bolsas de estudo para Portugal do Instituto Camões e com os inspetores-formadores. O projeto recebeu o nome de “Visita Guiada ao Interior da Língua Portuguesa” e integrará atividades autocorretivas nos domínios da compreensão (escrita, mas também oral, com um corpus de canções lusófonas) e do funcionamento da língua em conteúdos problemáticos para um bom número de guineenses. Com soluções e critérios de classificação, a coletânea tem como objetivo, além da divulgação da língua portuguesa, a promoção das autoaprendizagens.
À margem do meu trabalho institucional, acompanho e apoio com regularidade estudantes universitários, professores e funcionários do Hotel Coimbra (onde estou alojado) e desloco-me a rádios, escolas, universidades e, este ano, ao Centro Franco-Guineense, quase sempre para falar de temas ligados à língua portuguesa.
Finalmente, e não menos importante, o meu PNR (“Português na Rua”). À noite, depois do jantar, gosto de ir passear pela cidade. Desses encontros diários com profissionais que trabalham à noite (seguranças, militares e polícias), nasceu uma turma de PNR. Durante o passeio, além de distribuir e recolher fichas de trabalho, sempre que necessário, vou fazendo miniaulas na rua para esclarecer dúvidas ou ajustar o trabalho.
Quando regresso ao hotel, estou estafado. Além do emocional, o prémio físico é dormir que nem um passarinho!
Como sempre, no momento de partir, as saudades vão consumir-me. Tento racionalizar e ver nessas inevitáveis saudades a ponta do iceberg de muitas experiências ricas, vivências emocionais e momentos únicos.
Sem dúvida que com a “Ser Mais Valia” a minha vida mudou!
P.s.: Na foto, o Dinis, segurança junto às Finanças, e estudante de letras em Tchico Té (uma espécie de Escola Superior de Educação). Muito aplicado, o Dinis cumpre com competência todas as tarefas que lhe dou.
António Pereira
Voluntário SMV