De volta à Guiné

Leonida Milhões está em Bissau com o José Alves Jana, no âmbito do projeto RCLP – Reforço de Competências em Língua Portuguesa. É um projeto de parceria entre a SMV e o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua para funcionários dos diversos ministérios da Guiné-Bissau. Aqui, a Leonida dá-nos conta da primeira metade da missão.

 

No aeroporto, a normal confusão das chegadas, das bagagens, dos cumprimentos e apresentações. Para trás ficaram as despedidas e as recomendações mais variadas, juntas com as dúvidas, as incertezas e todo o tempo em que esta missão foi pensada e ponderada.

Apresentações feitas e, tendo em conta as normas de “recolher obrigatório”, são horas de jantar. A pequena viagem até ao restaurante faz-se com a calma destes sítios e a confusão do costume. Estamos na Guiné-Bissau, já não há margem para qualquer dúvida!!

“Não se sabe quando estamos prontos. Sei que estamos prontos para continuar e depois começar quando uma coisa nos toca”, diz Maria Filomena Molder.

A nova missão da SMV  em Bissau tornou-se possível e tanto eu como o professor Alves Jana estamos prontos a recomeçar com as formações presenciais depois de uma experiência de formação à distância em maio passado.

Voltei atrás uns anitos regressando à Escola Nacional de Saúde e ao Hospital Pediátrico em S. José de Bôr. É impossível distanciar este regresso da primeira vinda e, não sendo possível comparar nem medir situações tão diferentes, este momento não pode ser visto sem  o anterior pois um tempo não começa sem que o outro continue.

É a mesma terra e o mesmo país mas, com um olhar diferente, procuramos rostos conhecidos, nomes, sons,  referências anteriores… Na chegada, o mesmo cuidado, a mesma atenção, a mesma certeza de que estaremos em casa e o nosso trabalho se vai realizar com a normalidade possível.

Em tempos diferentes, normas diferentes. Destas fazem parte o recolher obrigatório, já aliviado esta semana, o uso da máscara, a desinfeção das mãos e a etiqueta respiratória.

 

O domingo foi para conhecer o Ilhéu do Rei, em conjunto com professores da Escola de Enfermagem de Coimbra. Ali, nas antigas instalações de uma fábrica de óleo Fula, está uma exposição permanente:  “Ntrudo”.

Desta vez a formação é numa sala do Centro Cultural Português e, tal como antes, contamos com o apoio da Cooperação Portuguesa\Instituto Camões e seus serviços. O grupo iniciou-se com 3 formandos vindos do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural.

À memória vieram corredores e salas cheias de rostos sem máscara que connosco partilharam seus saberes, suas dúvidas  e sua cultura aquando da minha primeira vinda a este país.

 

Caminho iniciado e, num passo de cada vez, vai aumentando o grupo, acrescido com formandos vindos do Ministério da Função Pública.

Estamos no tempo das chuvas que chegam, muitas vezes, com trovoada e, quase sempre, durante a noite. De dia o sol aquece e a garrafa da água tem de estar sempre por perto.

As tardes, que antes eram de formação em Bôr, são tempo de preparar o dia seguinte, rever trabalhos, fazer compras, escolher telefone ou comprar saldo, tentando conhecer a cidade com suas gentes e seus espaços. A primeira semana foi para “chegar à Guiné”. Nesta já se trocam mensagens e agendam visitas quer às Instituições onde trabalhei anteriormente, quer com os formandos da formação de maio e anteriores.

No fim de semana fomos ao Bandim, a uma loja de artesanato e ao “mercado artesanal” \Coqueiros. A diferença não podia ser maior em relação ao passado. Nos Coqueiros, poucas bancas, menos artigos à venda e só nós como visitantes ou possíveis compradores durante todo o tempo em que lá estivemos. No Bandim nota-se a mesma situação, pois menos movimento faz toda a diferença no barulho, nos cheiros, nas cores e no “postal”  que temos na memória.

Estamos a meio desta caminhada e, felizes com a chegada, mas antevendo a despedida, acreditamos  que “Quando somos mais velhos percebemos que somos uma manta de retalhos de tudo o que viveu connosco”, como diz Maria Filomena Molder.

 

Leonida Milhões
voluntária da SMV