Exposição "Feelings"

Dia Internacional das Pessoas com Deficiência (3 de dezembro)

Ficar sem rede depois da escola…

A escola é um porto seguro para jovens com dificuldades intelectuais e do desenvolvimento (DID). Escola e família desenvolvem uma rede coesa em torno deles, que os protege e transmite a todos uma sensação de segurança e bem-estar.

Terminada a escolaridade obrigatória… o que se segue?

A rede desfaz-se e a sensação de segurança esmorece. A começar pela família que, habituada a um nível de conforto tranquilizante, se depara com o futuro de forma abrupta e dolorosa. Ou seja, num dia têm uma criança, um adolescente, ou um jovem com uma limitação grave, apoiados pela escola e por recursos educacionais, de saúde, ou outros, no dia seguinte, passam a ter um adulto que continua, exatamente, com a mesma condição, mas sem a rede protetora e com novos desafios e exigências a enfrentar. Para sempre.

A família é obrigada a encarar uma sociedade que não o/a aceita, que não o/a inclui, muitas vezes, que não o/a vê porque não quer ver, porque… A família e o/a jovem veem-se obrigados a abandonar o lugar seguro e invisível em que se sentiam confortáveis, em busca de soluções para os novos problemas. Aqueles em que se recusavam pensar para tornarem o quotidiano menos duro.

Há respostas sociais que os pais não consideram, por múltiplas razões, aceitáveis para os filhos. Com todo o direito. E, em contrapartida, existem listas de espera infindáveis para as respostas que as famílias consideram adequadas. A solidão e o isolamento são, assim, o estado mais comum dos jovens, durante a longa espera.

Sabe-se que as aprendizagens realizadas durante o percurso escolar nos jovens com DID, são rapidamente esquecidas e as capacidades não praticadas diminuem. É muito visível este tipo de regressão nos jovens que terminam a escolaridade obrigatória e se isolam em casa.

É preciso um trabalho preventivo, é preciso trabalhar com as escolas e sensibilizar os pais/famílias para este futuro que se aproxima com grande rapidez, criando-lhes redes. Apresentando alternativas e caminhos que podem não ser fáceis, mas fazer-lhes saber que não estão sozinhos. Mostrar aos pais que a opção não é isolar os filhos em casa, que há mais percursos no espaço social e que é possível fazer mais e melhor. Mostrar que se está a trabalhar para que se criem suportes e se faça participar a comunidade na sua integração.

 

Criado em 2015, o núcleo de Aveiro da PeR trabalha uma estrutura psico-socio-educacional, abrangendo um variado leque de áreas de atuação, com o fim de promover uma autonomia e competências emocionais, sociais e profissionais a jovens e adultos com dificuldades Intelectuais e do desenvolvimento (DID), na região. Pretende assim responder a famílias e filhos com DID através de uma forma mais criativa: todo o trabalho com o jovem e o adulto é gerido com o objetivo de promover a sua autonomia, desenvolver as suas capacidades cognitivas (respeitando os seus limites), sociais, emocionais, relacionais e profissionais. Olhando cada pessoa como um ser único e individual.

O núcleo de Aveiro dá apoio a 25 jovens e adultos (m/f), com problemas do neuro-desenvolvimento, em idades compreendidas entre os 18 e os 42 anos, que terminaram o seu percurso escolar.

 

 

Vera Freitas
Psicóloga do núcleo de Aveiro da Associação Pais em Rede (PeR).