Dia Mundial da População

Desde 1989 que a ONU nos convida a assinalar a 11 de Julho o Dia Mundial da População. Vale a pena, neste contexto, pensarmos a realidade de África.

Qual África? Geologicamente, há uma, o continente. Mas socialmente a África é diversa, desde o Norte mediterrânico, à cidade do Cabo. Aqui importa sobretudo pensar a África que fala português, apesar de tudo bastante diversa, no contexto do que se convencionou chamar de África Negra ou Subsariana.

A realidade desta África encerra desde logo um presente marcado pela sua história. Daí que ela esteja sujeita às heranças das culturas tribais, aos efeitos da acção das potências coloniais e à avidez das multinacionais (faz verso, mas a rima não é nada agradável para os africanos). E um dos fenómenos resultantes do cruzamento destas forças é o que dá pelo nome de “oligarquias predadoras”. Se este fenómeno ainda persiste, também vem ganhando força um outro que lhe é oposto, a ideia de que a “boa governação” pode mudar a situação dos povos.

Do ponto de vista demográfico, África é uma verdadeira bomba: felizmente, é um continente jovem e a mortalidade sobretudo infantil tem sido debelada, por isso o crescimento demográfico prevê-se exponencial; infelizmente, não se prevê que as marcas acima referidas permitam que o desenvolvimento económico crie condições para toda essa população. Contudo, apesar disso, algo mais profundo se passa, que passa na informação mais preocupada com catástrofes. Kishore Mahbubani, que tem a vantagem de ter um olhar indiano, diz-nos que «a maior parte dos países da África Subsariana está a alcançar progressos efetivos. Por cada país disfuncional, como a Somália, existem várias nações vizinhas funcionais, como a Etiópia, o Jibuti, o Quénia e a Tanzânia. A Etiópia foi, durante muito tempo, o símbolo da pobreza africana. No entanto, o seu rendimento per capita aumentou 214 por cento nas últimas três décadas. O Ruanda e o Uganda são outros dois países em que o rendimento per capita aumentou de forma sustentável.» (A queda do Ociente? Uma provocação, p. 49)

© Francisco Azevedo Coutinho

A África é uma bomba demográfica, potenciada por um desenvolvimento económico incapaz de lhe acompanhar o ritmo de crescimento. Isso faz crescer o medo numa Europa que se viu sem a barragem de defesa que eram os países da África mediterrânica. O medo nunca foi bom conselheiro. Até por isso, pode haver um feliz casamento de interesses – das populações africanas e das europeias – no desenvolvimento económico e social das várias regiões de África. Talvez possamos inverter alguns dos caminhos para o desastre. Essa é uma boa ideia neste Dia (e mês) da População.

José Alves Jana