DJUMBAI ou a(s) festa(s) da língua portuguesa

A dupla missão a que dei corpo, foi, literalmente, um caso “de polícias”! Em outubro, a Guarda Nacional, a Polícia de Ordem Pública e o SIS; em novembro, a Polícia das Migrações e Fronteiras e alguns elementos do SIS.

Estava curioso e, ao mesmo tempo, ligeiramente intimidado por não saber como lidar com tão específico público.

Afinal, depois de alguma formalidade inicial, com todos a levantaram-se quando eu entrava na sala e a fazerem-me continência, rapidamente se mostraram como são por dentro: alegres, bem-dispostos, muito comunicativos.

As 120 horas dos dois cursos “voaram” e, por iniciativa das Migrações e Fronteiras, o alargamento do visto que pretendia transformou-se numa autorização de residência!

E se o dia se iniciava com os polícias das 9h00 às 12h00, concluía-se com a aula dos funcionários do Hotel Coimbra, onde estive alojado, das 17h00 às 19h00, numa contrapartida pela “mesa, cama e roupa lavada” que me foram proporcionadas.

Além destas formações, não faltaram outros “djumbai” (termo crioulo que designa um encontro entre pessoas, convívio) da língua portuguesa: realização de seminários sobre temas da língua portuguesa, ao sábado, no Centro Cultural Português;pedidos para ajudar a escrever cartas, requerimentos e até um bilhete-cunha dirigido a um diretor-geral do ministério da Educação;acompanhamento dois rececionistas do hotel Império e de um motorista da embaixada de Portugal; encontros, ao domingo, a pedido do Sana (um aluno do Kripor 2017), com um grupo de jovens guineenses para falar e refletir sobre a função da poesia na sociedade e acompanhar a produção poética de cada um.

A última atividade que referi (“Clube dos Poetas Vivos”) foi das coisas mais interessantes que já me aconteceram. Jovens determinadosque querem mudar o mundo, combatendo o conformismo através da poesia. Que coisa mais bonita!

Depois depequenas afinações numa ou noutra palavra, oBacar, poeta de mão cheia, apresentou-me esta pequena maravilha:

 

VIDA

São as tintas gastas

nas folhas brancas

Pescando rimas

e sonetos

 

Caneta?

É folha ?

Ou versos?

 

União das letras

Palavras

e consolo

A minha vida são as palavras

 

Uma arma

Silenciosa

E certeira

 

Chegado ao aeroporto, quem estava no controlo dos passaportes? Alunos das Migrações e Fronteiras! Mais beijos, abraços, votos de boa viagem e juras de amor eterno…

Já no avião, mesmo antes de se fecharem as portas, mensagem do Fernando, um jovem aluno do hotel Coimbra: “Desculpa prof por não ter despedido do senhor. Desejo boa viagem. Cumprimenta seus famílias. Um abraço enorme. Ti amo professor”.

Também te/vos amo, pois É URGENTE O AMOR!

 

António Pereira