4 perguntas a Mafalda França

Mafalda França foi educadora de infância e formadora na área da pedagogia. Trabalhou 33 anos na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, de onde saiu em 2003, grata por ter concluído uma carreira profissional rica em experiências educativas, aprendizagens, relacionamentos profissionais e sociais, determinantes no seu percurso de vida.

A sua primeira experiência associativa aconteceu em 1986, na Associação dos Profissionais de Educação de Infância (APEI) com funções de presidente da Assembleia Geral.

Quando decidiu que era ”tempo de mudar” (e a coincidência do nascimento do João, primeiro neto), tudo indicava o caminho da “abençoada reforma”. Mas não se identificou com o seu significado e encontrou uma porta de entrada para uma nova experiência profissional – Formadora nos cursos de Educação e Formação de Adultos que resultaram em mais 10 anos de trabalho na organização e formação de cursos de técnicos de acção educativa.

A 3 de janeiro de 2013 fez a sua candidatura ao Projecto Mais Valia da Fundação Calouste Gulbenkian e no dia 2 de fevereiro de 2014 partia para Maputo com destino final Cuamba, distrito do Niassa.

Tinha chegado a hora de cumprir o desígnio de voluntariado na sua área de competências através da Missão – Formação Pedagógica dos recursos humanos das Escolinhas Comunitárias do Niassa.

O que se seguiu todos (ou a maioria dos que nos lêem) sabem.

1- Mafalda, depois do Projecto Mais Valia terminar, enquanto projeto da Fundação Gulbenkian, fizeste parte do grupo inicial da criação da Associação SMV e foste a sua primeira presidente. O que te levou a acreditar nesta ideia e na existência de energia e de vontade para continuar?

O programa de Voluntariado Além-Fronteiras, para maiores de 55 anos –Projeto Mais Valia – representou para mim a oportunidade de concretizar um desejo alimentado de esperança de um dia poder integrar uma organização que me permitisse desenvolver trabalho na área de educação em África.

As experiências vivenciadas nas missões que, entretanto, realizei, foram motivo de sobejo para me agregar a “outros” que sentiam, tal como eu, que os objetivos perseguidos na criação do Projeto Mais Valia não se esgotavam em quatro anos de vigência [na FCG]. Daí a necessidade de criar uma estrutura que permitisse aos voluntários inscritos na bolsa ”mais valia” continuarem a participar em projetos de apoio ao desenvolvimento em África e a abrir caminho ao voluntariado em Portugal. Foi a reflexão à volta deste tema, iniciada por um grupo de voluntários (Grupo de Reflexão Mais Valia) e depois alargada a todos os inscritos na bolsa de voluntariado, que conduziu à constituição da Associação Ser Mais Valia em novembro de 2016.

Estava assim aberto o caminho à continuidade da participação dos voluntários (agora associados) em ações de apoio ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.


2- Chegou agora ao fim o mandato desta direção, após um triénio de grande trabalho de instalação da SMV. O que é que foi mais difícil durante este período e o mais gratificante?

Esta é uma pergunta para a qual necessito de fazer uma reflexão cuidada de modo a que os resultados que dela surjam possam acrescentar “valias” ao trabalho da próxima direção.

Agora, ainda sem distanciamento necessário, o que mais relevo é a gratificação por termos criado uma Associação de voluntariado sénior que pretende dar tradução prática ao envelhecimento ativo dos cidadãos.

Maior é este sentimento quando sabemos que desta prática resultam mais valias para nós e para os outros com quem partilhamos saberes e pedaços de vida.

3- A SMV é uma associação de gente maior, com qualificação e energia para agir em diferentes áreas. Achas que tem lugar numa sociedade tão virada para o culto da juventude ou o paradigma está a mudar e a SMV faz parte dessa mudança?

Na Conferência  Internacional  do Envelhecimento e da Inovação ( FCG, 2012)   o Comissário Europeu para o Emprego, Inclusão e Assuntos Sociais, Lazlo Andor, salientou  a importância de “…encorajar uma cultura favorável ao envelhecimento ativo, que inclua os mais velhos ao invés de os excluir, uma cultura que lhes permita desenvolver o seu potencial em vez de se concentrar nas suas fraquezas, e que estimule as suas capacidades em vez de os tratar com condescendência”.

Penso que a SMV se identifica com esta visão do envelhecimento e que cada um dos seus associados é desta forma que quer participar na sociedade provando, com a sua prática de voluntariado, como a cidadania pode estar presente em todas as fases da vida.

  4- O que dirias a todos os associados e a cada um no sentido de uma maior participação ou presença na SMV?

Esta é uma questão relevante na vida da SMV e que requer o empenhamento de todos. A experiência deste triénio mostrou que a variedade e número de solicitações, além de demonstrarem o reconhecimento do mérito no trabalho desenvolvido pela SMV, implica uma planificação cuidada no funcionamento das atividades, uma gestão rigorosa dos recursos que as sustentam e uma disponibilidade constante na resposta às solicitações internas e externas.

É, por isso, fundamental que a direção possa contar com a disponibilidade dos associados no apoio ao desenvolvimento das diferentes actividades que justificam a razão de ser da Associação.

Para percorrer o caminho que nos fez chegar até aqui é de realçar a presença regular, junto da direção, de um grupo de 13 associados que, individualmente ou organizados em grupo de trabalho, contribuíram para tal.

Sendo verdade que o facto destes associados residirem em Lisboa ou aqui perto facilita esta aproximação à direção, temos sinais de outros que, mais distantes fisicamente, estão disponíveis para, igualmente, contribuírem para a mais valia da Associação.

No tempo em que as redes de contacto coabitam permanentemente connosco, não fomos suficientemente criativos para criar uma dinâmica de comunicação interna envolvendo todos.

Melhorar o plano de comunicação interno e externo e de divulgação da SMV” é uma das propostas contidas no Plano de Ação da próxima direção.

Finalmente, deixo um repto a todos os associados para que sejamos capazes de contribuir para o sucesso desta proposta.

Recolha por Isabel Amorim