Entrevista com Ana Lopes, coordenadora do “Mentoring SMV”

Depois da azáfama dos Encontros Regionais, e com a sensação de missão cumprida, encontrámo-nos numa manhã de sábado, na Pastelaria Mexicana, em Lisboa, com a Ana Lopes, fundadora e ex-vice presidente da Associação, atualmente coordenadora do projeto Mentoring Ser Mais Valia, para nos contar como surgiu este projeto e como evoluiu. Falámos de muito mais coisas, de alguns desafios presentes, mas para já ficam os registos do seu projeto do coração, o Mentoring, como lhe chama carinhosamente.

C-SMV – Ana, como nasceu o projeto “Mentoring Ser Mais Valia”?

AL – Sendo a educação uma das áreas estratégicas da Associação, com intervenções ao nível do reforço de competências de estudantes dos PALOP e de outros países em parcerias com outras instituições, o objetivo de apoiar estudantes na sua inserção nos contextos social, cultural e académico em Portugal casava perfeitamente com um programa de mentoria.

A ideia do projeto surgiu a partir de uma experiência pessoal de Coaching na qual estive envolvida, noutra Associação, que desenvolveu um projeto numa escola TEIP da Amadora, no âmbito do Programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária. Acompanhei dois jovens durante dois anos no seu percurso escolar e estágio profissional, até encontrarem emprego. Lembro-me de pensar porque não aproveitar esta experiência e apoiar os estudantes da Guiné-Bissau que nos contactavam em Portugal depois de frequentarem o Kripor. Tive logo o apoio da Manuela Novais e da Maria Helena Coelho, que foram elementos fundamentais para a criação do projeto: “Assim nasceu o Mentoring Ser Mais Valia.”

C-SMV – E em que consiste exatamente esse acompanhamento dos mentores?

Quando temos informação sobre a vinda dos   estudantes, uma equipa de mentores vai esperá-los ao aeroporto. À chegada a um novo Pais, um amigo pode ser importante, pois eles vão encontrar uma  cultura diferente, ouvir e falar uma língua que não é a sua língua materna e, sobretudo, integrar um novo sistema de ensino. Apesar de partilharem a mesma língua, os estudantes deparam-se tantas vezes com obstáculos.

É na tentativa de mitigar essas dificuldades que intervém a figura do Mentor para apoio à integração do estudante, o que passa por conseguir o seu bem-estar físico e psicológico ou pela promoção da autonomia e da autoconfiança. Muito importante é também a figura do Amigo do Mentoring, num apoio personalizado para a superação de dificuldades académicas específicas. A alma desta engrenagem (que é, aliás, o símbolo do nosso projeto) surge nessa interligação entre Mentor e Estudante, num intercâmbio de conhecimentos, culturas, tradições, mas sobretudo de afetos.

C-SMV – Quem são os mentores e como se organizam?

Os mentores são voluntários da SMV selecionados de acordo com a área geográfica dos estabelecimentos de ensino que os estudantes frequentam. Todos têm formação académica, profissional e outras competências transversais. O mentor é um elemento central do desenvolvimento do nosso projeto e o seu empenho é essencial para se conseguir a integração e acompanhamento dos estudantes.

Há um grupo coordenador constituído pela Maria Helena Coelho, que está no projeto desde a primeira hora e foi sempre uma grande timoneira e uma grande companheira nesta jornada, pelo Ângelo Soares que nos veio dar uma valiosa contribuição, pela Teresa Pessôa e Teresa Neto, ambas professoras ainda no ativo, que são elementos relevantes para o desenvolvimento do projeto. Somos também coadjuvados por um conselho consultivo, neste momento constituído por quatro estudantes, o Sumaila, o Ronaldo, o Sadjo e o Silver, que nos ajudam a aferir e a fazer melhor. Desde 2020 integrámos uma consultora externa para aconselhamento e formação dos voluntários.

O Grupo Coordenador conhece todos os estudantes pelo nome, sabemos de onde vêm, onde estão a estudar e o curso que estão a tirar. Há todo um trabalho de análise ponderada para encontrar o mentor certo para cada estudante e, quando chegam novos estudantes há a preocupação de encontrar novos mentores e do reforçar a bolsa.

Organizamos todos os anos encontros regionais e um encontro nacional. Este ano já realizámos os  encontros regionais que decorreram na Universidade de Évora e na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de  em Coimbra. Juntámos os estudantes do Norte e do Centro  em Coimbra onde foi entregue o Prémio Esperança em Ação a seis estudantes que integram o projeto. Em breve daremos início à preparação do encontro nacional que é sempre um dia muito particular para a família Mentoring SMV.

C-SMV – Já percebi que os jovens estudantes são de várias origens e estão distribuídos pelo País. Quantos são de momento, de onde veem e onde estão a estudar?

AL – Alguns deles são bolseiros do Instituto Camões, outros são referenciados por Instituições do ensino Superior com quem celebrámos protocolos de colaboração e também chegam estudantes que receberam informação, sobre o projeto, por outros estudantes . Em termos de origem são, na sua maioria guineenses, mas também temos estudantes de Angola, de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe, de Moçambique e de Timor-Lorosae. Em termos de distribuição estão espalhados pelo País. Na zona Norte temos 28 estudantes em Bragança, Vila Real, Braga, Porto e Lousada. Na zona Centro são 22, que estão em Aveiro, Coimbra, Leiria, Nazaré, Caldas da Rainha, Abrantes e Castelo Branco. Em Lisboa são 30 estudantes e na Zona Sul temos 30 estudantes de Évora e Algarve. No total, são 105 estudantes. Começámos em 2017 com seis.

C-SMV – E como podem integrar o projeto?

Até à data integram o projeto os estudantes que manifestam interesse em receber apoio do MentoringSMV.

C-SMV – Quem são vossos parceiros?

Temos parceiros formais, como a Universidade de Évora, a Universidade Católica Portuguesa-CRBraga, o Instituto Politécnico de Lisboa e a Fundação Novo Futuro. Como parceiros de proximidade: a Universidade de Coimbra, a Universidade de Aveiro, a Cooperação Portuguesa na Guiné-Bissau, e, claro o nosso parceiro de sempre, a Fundação Calouste Gulbenkian.

C-SMV – O que é para si ser voluntária?

AL – Também me fizeram essa pergunta quando cheguei à SMV.  Posso afirmar agora, ainda com mais convicção, que para mim ser voluntária é ter uma família do tamanho do Mundo!

 

 

Comunicação SMV