Formação para a Guiné-Bissau a todo o gás!
“Passo a passo, no na tchiga la, nhapursor!”
Devo dizer que não sou fã do ensino à distância. É como um pudim de pacote: não deixa de ser sobremesa e até se come, mas, com ovos a sério, é outra coisa. E se elevarmos a fasquia a um Abade de Priscos, nem se fala!
Um pouco depois da formação das “teclaulas” do Kripor IV, no final do verão, numa troca de impressões com a Ana Lopes, ficou-nos a esperança de o retomar do projeto conjunto SMV-Instituto Camões já poder ser presencial. A evolução pandémica que conhecemos trocou-nos as voltas e a formação via Zoom tornou-se incontornável.
Em relação aos meios, a aposta foi na simplicidade e na redução de custos. Optou-se por um modelo tipo telescola, com a projeção em ecrã do formador na sala de conferências do Centro Cultural Português, onde estavam os formandos, como numa sala de aula, com distanciamento e máscaras.
Quanto à adaptação do curso à modalidade à distância, desde o início que senti que tinha de apostar na qualidade da comunicação:
- Aprendi, com o nosso Edmundo, a abrir e a encerrar o Zoom, a partilhar o ecrã e mais um ou dois detalhes importantes. Na primeira aula, tive o conforto do apoio dele nos bastidores e, a partir da segunda, ganhei asas.
- Todos os alunos com e-mail e, se possível, Facebook.
- Designação de um delegado e subdelegado, meus interlocutores em questões logísticas, com quem podia comunicar por telefone quando a Internet caía, porta-vozes das conclusões da turma nos momentos de discussão de ideias ou de respostas e ainda o meu braço à distância na distribuição de documentos nos momentos certos.
- Criação/adaptação de fichas com itens de natureza objetiva que, não deixando de ser verdadeiros desafios para o intelecto, fossem também fáceis em três momentos cruciais: na compreensão de cada pergunta, nas respostas e nas correções.
- Logo na primeira aula, apercebi-me de que os formandos me ouviam bem, mas eu não os ouvia, exceto se estivessem junto ao micro que havia na sala. Por isso, introduzi ajustamentos, nomeadamente os “semáforos pedagógicos”. Para responderem às minhas perguntas, usavam a cor verde para dizer SIM e a vermelha para dizer NÃO. Simples, eficaz e divertido, sobretudo quando eu me distraía e os alunos acenavam energicamente, ora com uma placa, ora com a outra.
Como muitas das estratégias de exploração dos textos eram retomadas em cada ficha, rapidamente os automatismos foram adquiridos e, à medida que as aulas decorriam, iam ganhando corpo três conclusões:
1.ª Como a leitura dos textos e as respostas às perguntas das fichas de trabalho eram feitas em casa, sendo as aulas reservadas para a discussão de argumentos, sobretudo quando havia respostas diferentes, o número de fichas trabalhadas nas aulas superou o que costuma acontecer nas formações presenciais.
2.ª As atividades de microescrita, realizadas de forma assíncrona, através do e-mail, bem como as autocorreções, foram uma aposta com retorno. Os formandos aderiram e revelaram-se focados e pacientes nas sucessivas afinações da sua escrita em frases e minitextos. Como me disse uma aluna no momento feliz da autocorreção de uma frase, depois de quatro tentativas: “Passo a passo, no na tchiga la, nha pursor!” (Pouco a pouco, vamos atingir o objetivo, meu professor!”)
3.ª Confirmando um dos pontos fracos do ensino à distância, os formandos com menos conhecimentos e competências mais frágeis foram os que tiveram mais dificuldades em entender os objetivos das tarefas e em pôr em prática as atividades de autorregulação.
Quando dei por mim, estávamos na aula 25, a última, o que aconteceu depois da data prevista, pois havia aulas perdidas a compensar, por quebras na internet, na eletricidade e tolerância de ponto na Páscoa.
No final dessa aula, com a presença da equipa Cooperação Portuguesa, do Senhor Embaixador e dos representantes dos organismos de onde vinham os formandos (Secretaria de Estado da Cultura e Inspeção-Geral da Educação), teve lugar a cerimónia de entrega dos certificados. A tristeza que a despedida sempre traz foi mais forte com a distância e a ausência dos beijos e abraços…
Estamos juntos!
Pursor AP
António Pereira
voluntário da SMV