Metamorfoses da Humanidade

A pintora Graça Morais tem patente no Museu de Arte Contemporânea, em Lisboa, uma exposição de desenhos e pintura sobre papel que intitulou Metamorfoses da Humanidade. Para lá do traço da artista, o que domina é o gafanhoto. Perdão, o humano gafanhoto. Ou o gafanhoto humano.

A 22 de Abril celebou-se o Dia da Terra, e é esta a exposição que me vem à ideia. A praga de gafanhotos humanos que se tem abatido sobre o planeta Terra e tem devastado tudo o que é perecível.

Os alertas têm vindo a suceder-se, com poucos resultados. Não é necessário enumerar aqui as dinâmicas de perigo em que estamos comprometidos, porque (in)felizmente todos estamos informados. O que às vezes não recordamos com tanta facilidade é que os efeitos nefastos da devastação recaem principalmente sobre os mais pobres, os mais frágeis. São os que já menos têm e que menos podem que com ainda menos ficam, depois da pilhagem dos recursos naturais ou depois da passagem de qualquer tempestade, tufão, ciclone…

Felizmente, a solidariedade com as pessoas atingidas manifesta-se em múltiplas ocasiões. Infelizmente, como no recente caso da Beira (Moçambique) essa solidariedade é ainda muito insuficiente. Milhares de pessoas podem ainda morrer se não for feito aquilo que é urgente que se faça.

Mas é sobretudo uma solidariedade “depois”, para remediar o mal que entretanto foi feito, apesar de todos sabermos que nisto do mal, “mais vale prevenir que remediar”. E continuamos a devorar o planeta como se nada estivesse a suceder!… A alternativa, mais inteligente, seria uma solidariedade preventiva. Ah, mas isso implica mudar comportamentos, alterar o estilo de vida, processo bem mais difícil que decidir um donativo numa campanha justamente emocional.

“Não há planeta B”, como é sabido e está dito e redito. Mas cada um de nós (europeu médio) “gasta” mais de dois ou três planetas por dia. Estamos a devorar aquilo a que outros têm hoje “direito” e estamos a condenar os nossos netos – nascidos ou por nascer – a viverem em piores condições do que aquelas que recebemos à nascença. Importa repetir: estamos a destruir as condições de habitabilidade dos nossos filhos e netos. E de milhões de outros seres humanos, presentes e futuros. E a prova disso é que isso mesmo está a acontecer às plantas e animais que nos precedem no desaparecimento progressivo.

É importante repetir: são os pobres e os mais frágeis quem mais sofre com os estragos que o gafanhoto humano faz e volta a fazer dia após dia.

Terra só há uma. Que pertence a todos. E todos os dias milhões de pessoas devoram um pedaço que pertence, de direito, a outros. Em que tribunal podem estes gafanhotos ser julgados?

 

José Alves Jana