Missão em Cacine, Guiné-Bissau 2023

 

Missão a Cacine de João Almeida – Guiné-Bissau de outubro a dezembro de 2023

Estou habituado a ir a África. Para mim África não é uma estreia, mas esta missão foi muito especial e ficar-me-á gravada para sempre na minha memória, uma vez que foi  uma missão no verdadeiro significado da palavra.

A Ser Mais Valia faz esta missão na Guiné durante 2 meses, pelo menos, numa vila pequena que nem é capital de Distrito, mas sim uma vila principal de Sector que está a seguir à capital de Distrito.

Fui recebido no aeroporto pelo nosso anfitrião (Valberto). Logo que chego apercebo-me que para além do calor normal, havia uma humidade a que não estava habituado em África.

A nossa deslocação posterior para Cacine só aconteceu no dia seguinte. Foram 280km percorridos em 10 horas (em jipe claro) o que mostra o estado das estradas para se chegar a uma vila fora da Capital. Saímos de manhã cedo, já com as compras que iriamos precisar para o dia a dia em Cacine, e chegamos à noite.

Fiquei hospedado à saída da Vila, no meio da selva, em condições ótimas considerando que era uma Vila, mas claro adaptadas a África, ou seja, sem ar condicionado, sem frigorifico, com luz de painel solar, água de um poço (sem ter água quente, mas também não é preciso).

As casas, na sua maioria são feitas de adobe e tem algumas um pouco melhores. O acesso é de terra batida com cerca de 1km. Tem duas estradas (vai-se por uma e vem-se por outra) que se juntam no local onde existe a Escola Betel fundada pelo nosso anfitrião. Uma escola com mais de 600 alunos da pré-primária ao 12º Ano.

Quando cheguei a Cacine fui apresentado às entidades locais, Régulo, Chefe da Polícia etc.

O Pastor Valberto fundou a escola, a rádio e uma sala de formação de informática com computadores bons. É uma grande obra num sítio destes.

Eu e o anfitrião eramos os únicos brancos na Vila (por isso não podia passar despercebido como eu gosto 😊).

A sala de informática tem todas as condições para ter 15 formandos/computadores. A idade dos formandos é entre 15 e 20 anos com exceção de um que era professor e tinha 40 anos.

Os formandos tinham dificuldade de perceber e ou falar Português por isso foram 2 meses de difícil comunicação. Tinha que falar muito devagarinho, individualmente, pois uma aula dada de forma expositiva pelo formador, para alunos, era como se falasse para o boneco.

Outro problema novo se levantou, foram os nomes dos alunos pois são nomes difíceis, fora do normal para Portugal e custou-me a decorar e saber de cor o nome de cada um; só passado 3 semanas é que já não falhava um nome. Gastava muito tempo pois tinha que ir individualmente de um formando/computador para outro e explicar informática.

Outro desafio, que já estava habituado, era explicar informática a formandos que pela primeira vez mexiam num computador e num rato.

O local onde estive instalado foi para mim uma experiência nova, emagreci 7 kg (a minha mulher disse-me que podia voltar para lá outra vez, pois fazia-me bem).

A dieta alimentar é a base de arroz, feijão, peixe e legumes de vez em quando. Não era a época da fruta.

Regressei e engordei apesar de esses menos 7 kg ficarem bem no meu índice massa corporal. Já estou a ultrapassar o limite superior do peso ideal.

Lá, a minha maior companheira era a cozinheira com quem tinha uma comunicação muito gira pois ela só falava crioulo e uma língua local e eu português. Fazíamos companhia um ao outro e sempre comi a comida local sem nenhuma diarreia ou problema, não havia bebidas alcoólicas, era só água e muito arroz. Não passei fome, mas fiz um bom regime (no fim dos 2 meses quando voltei a Bissau e fiquei uns dias por lá apanhei a primeira diarreia e andei enjoado. Saudades de Cacine😊).

No dia a dia como devem supor não havia nada para fazer, sem tv, net horrível a 2MB de velocidade e ás vezes sem ela, passei o tempo a ler e a ouvir áudio nos tempos livres.

Por isso o tempo foi todo focado na formação e nos alunos com uma turma de manhã e outra a tarde. Aos sábados abria a sala para quem quisesse comparecer e aos domingos ia ver o futebol num campo de terra batida aos altos e baixos. Adoravam aquele desporto que tanto era para  equipas masculinas como para equipas femininas. E eu lá estava a ver, o único branco. O desporto era sempre ao fim do dia pois ali o clima é muito quente e húmido. Parecia que estávamos num banho turco.

Mas, voltando à formação na missão que me levou lá, nunca tive formandos tão humildes e interessados. Consegui ter uma relação pessoal com quase todos, já não me baralhava com os nomes e eles queriam andar comigo. Como devem imaginar eles queriam atenção. No fim criamos uma relação muito boa, de tal forma, que ainda agora, no WhatsApp, me mandam mensagens. É a melhor parte que levo da Missão onde consegui transmitir conhecimentos de informática e criar laços de amizade.

Por fim só um agradecimento à pessoa que criou esta Escola há quase 30 anos com todas as condições que conseguiu colocar à disposição das crianças, onde dá alimentação, ensino e até dormida. Um trabalho de louvar e sério que nestas latitudes às vezes é difícil de encontrar.

Ao Pastor Evangélico Valberto Oliveira de origem brasileira, mas mais africano que muitos que nasceram em África e de origem africana.

 

João Almeida

Voluntári0 Ser Mais Valia