Que diferença faz?

No famoso diálogo entre Marco Polo e Kublai Khan*, o viajante descreve uma ponte pedra a pedra. O Imperador mongol quer saber qual a pedra que sustenta a construção, sendo surpreendido pelo estrangeiro que lhe afirma ser o arco, e não a pedra, que sustenta a ponte. Intrigado, o Imperador quer perceber então porque perde tempo Marco Polo a descrever as pedras se o que importa é o arco. “Polo responde: – Sem pedras, não há arco”

Bastaria talvez esta curta página de Italo Calvino para sintetizar o trabalho que nos cabe fazer. O compromisso dos voluntários da Associação Ser Mais Valia é de construção, de integração, de participação, fazendo, deste modo, parte do arco. Cada uma das nossas missões, como poderão ver nas notícias que aqui trazemos, resulta de um pedido, de uma necessidade, de uma parceria. Os voluntários da Ser Mais Valia disponibilizam um capital específico – conhecimento, experiência, técnica – para ações concretas e específicas, requeridas, identificadas e planeadas com aqueles com quem vamos trabalhar. Desta forma cada pedra terá que ser exata, a que é “talhada” para o arco de cada “ponte” em que nos envolvemos.

Há, na essência e na designação da associação, um pressuposto de desenvolvimento que nos implica neste trabalho laborioso de complementaridade e não de substituição, de capacitação e não de dependência, de parceria e não de liderança. Não é um voluntariado simples, nós sabemos. Mas é este que temos para “oferecer” a quem nos procura. Por isso os nossos voluntários são selecionados: para responder aos pedidos específicos que nos são feitos; Por isso as nossas missões são com parceiros locais: porque a nossa presença é pontual e cirúrgica, e os nossos projetos são os que fazemos com outros.

E se ainda tem dúvidas sobre a diferença que faz a nossa ação espreite o resumo da missão do Lincoln na Guiné ou o da Fernanda em Maputo. Eles são pedras que suportam o arco.

Elisa Santos

Associação Ser Mais Valia

*As Cidades Invisíveis (1972)