Quando chegamos a casa da Fernanda sentimos-nos logo abraçados pelos cheiros, cores, quadros e fotografias, mas também pela música de fundo… Tudo de um tremendo bom gosto e no lugar certo. Porém, devo dizer que o que mais me impressionou foi a coleção de budas, logo na entrada. Os mais de cem budas (quase todos sorridentes!) adquiriu-os ao longo das muitas viagens que fez por quatro continentes . Ou então, recebeu-os de familiares e amigos. Viveu muitos anos em Macau, mas palmilhou meio mundo quer em trabalho quer em lazer.
Desde a primeira hora ainda ligada ao projeto-piloto Mais Valia da Fundação Calouste Gulbenkian, esteve como voluntária em missão em Angola e Moçambique. Já pela Ser Mais Valia, esteve na Guiné-Bissau. A Fernanda Gomes trabalhou num Departamento de Planeamento e também em programação informática. Mas dedicou a maior parte da sua vida ativa ao ensino da matemática quer a alunos dos vários graus de ensino quer como orientadora. São também essas as competências que coloca ao serviço da nossa Associação nos vários projetos e missões em que está envolvida.
Fernanda, adoras fazer puzzles e, pelos vistos, colecionar objetos. Dirias que a organização é uma qualidade que te caracteriza?
Organizada … no meio do caos de muitos papeis, jornais, fotografias, livros, CD’s … que vou guardando.
Este número da Newsletter foca-se no tema das parcerias e do trabalho em rede. Já participaste em várias Missões da Mais Valia (FCG) em Angola e Moçambique e da SMV na Guiné-Bissau. Qual a importância das parcerias locais no domínio da cooperação para o desenvolvimento?
Na minha perspetiva, cooperar não é trabalhar “para”, mas é trabalhar “com”. Partindo desta premissa, seja qual for o tipo de parceria (logística, financeira ou de participação direta na ação) é importante que os objetivos sejam definidos em conjunto. Para que a implementação de um projeto, em qualquer zona geográfica, tenha sucesso, quem melhor que os parceiros locais para o garantirem? Conhecem o terreno quer físico quer sociocultural, as espectativas e potencialidades dos destinatários, as suas prioridades. Quem melhor conhece os problemas e pode ajudar a encontrar soluções? Por outro lado, mais cedo ou mais tarde, as Organizações retiram-se e serão os parceiros locais a dar continuidade e sustentabilidade às ações que foram propostas e desenvolvidas. Ou seja, usando uma expressão que nos é cara – são uma Mais Valia.
E quais as dificuldades e virtudes que encontras no terreno?
Quanto às dificuldades existem sempre em maior ou menor quantidade, começando logo pelo facto das organizações viverem das experiências dos seus voluntários nas suas diversas dimensões e nem sempre haver capacidade de adaptação à realidade local. Estar atento com olhos e ouvidos bem abertos e com espírito flexível, é de capital importância. Outra dificuldade, como é sabido, é normalmente a escassez de recursos quer humanos quer materiais. As virtudes do díálogo com parceiros locais residem fundamentalmente no conhecimento e aprendizagens mútuas, que ajudam a eliminar desconfianças, a encontrar uma linguagem comum e podem conduzir à adaptação das ações programadas ao contexto e necessidades locais.
Também em Portugal, a SMV desenvolve parcerias com outras ONGD com intervenções semelhantes ou que se podem complementar. Como surgem essas parcerias? Por exemplo, como surgiu a parceria com a SOLSEF?
A Solsef – Sol Sem Fronteiras, organização de jovens, obteve financiamento do Instituto Camões para o projeto Capacitação Pedagógica – Apoio ao desenvolvimento de capacidades na gestão pedagógica dos centros escolares da Missão Católica de Bafatá. Precisava de formadores e professores qualificados que, porém, não tinha. Contactou a Ser Mais Valia e chegámos a acordo na forma de cooperarmos. Ficou assim estabelecida, desde 2021, uma parceria entre “os jovens e os cotas”, que se tem mantido e é profícua para ambos os lados. É de uma grande riqueza esta sinergia intergeracional.
Estiveste ligada à fundação da SMV, já pertenceste à Direção e ao grupo de Projetos. Em que outras atividades e projetos da SMV estás agora envolvida?
Sou secretária da Assembleia Geral, integro a Área de Gestão de Projetos (AGP) que tem como objetivo o acompanhamento do desenvolvimento dos processos necessários à realização de missões, projetos e atividades da SMV. Faço também parte da equipa da 2ª edição do projeto Mais Conhecimento Melhor Futuro , financiado pela FCG, que se desenvolve na Guiné-Bissau e que visa qualificar jovens guineenses que frequentam o 12º ano (área de ciências) com competências específicas na área da matemática, TIC e língua portuguesa.
Quais dirias que são os maiores desafios para a Associação nesta fase de crescimento (em que já atingiu os 100 associados) e para ti, pessoalmente?
Um dos principais desafios é manter a união de todos os associados em torno dos valores que temos vindo a partilhar ao longo dos anos e que são pilares da SMV. A sustentabilidade é outro desafio importante. Quanto a mim, vou continuar, enquanto a cabeça e o corpo permitirem (a idade não perdoa …) a estar disponível para o que for necessário, partilhando o que possa ser útil a esta grande família.
Ana Suspiro
Voluntária da Ser Mais Valia