À conversa com…

“Juntos, em parceria, conseguimos fazer muito melhor e alcançamos mais pessoas” uma opinião partilhada por duas gerações.

Francisco Maia, Presidente da AMU, e Ana do Carmo Lopes, Coordenadora do projeto Mentoring SMV

A AMU Portugal – Ações para um Mudo Unido, criada em 1994, simultaneamente uma Instituição Privada de Solidariedade Social (IPSS) e, à semelhança da SMV, uma ONGD também atua nas áreas da cooperação e educação para o desenvolvimento nos PALOP e em Portugal.

A AMU e a SMV são parceiras no prémio “Esperança em Ação” que na 1.ª, e agora, 2.ª edição premeia com computadores os estudantes do projeto Mentoring SMV com bons resultados académicos, mas também pelo seu esforço e a sua intervenção a favor da comunidade e participação cívica. Estivemos à conversa com o presidente da AMU, Francisco Maia, e a coordenadora do projeto Mentoring SMV, Ana do Carmo Lopes, no recém inaugurado Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Francisco, como é que surgiu esta parceria entre a SMV e a AMU?

A AMU e a SMV são duas instituições que partilham um conjunto de objetivos e valores, mas sobretudo, reúnem um conjunto de pessoas que percebem que trabalhar em conjunto pode levar cada uma das organizações para outro patamar. Vivemos numa transição societal em que estas associações e organizações da sociedade civil têm sido, sistematicamente, arredadas do discurso político e, se calhar, em que a própria sociedade tem mais dificuldade com um comprometimento com ideais. É importante passar esta mensagem de que dedicar-se a uma causa não é diminuir a vida, mas antes aumentá-la. Neste contexto, se nos conseguirmos juntar, alinhar, aprofundar essas relações temos tudo a ganhar. Não só fazemos melhores projetos e chegamos a mais pessoas, mas também nos tornamos melhores associações e melhores pessoas. Somos essas organizações abertas ao novo e disponíveis para tentar coisas novas. Para mim, é isso que é mais relevante.

Ana, partilhas esta visão do Francisco?

Partilho completamente. Não há dúvida nenhuma que juntos, em parceria, conseguimos fazer muito melhor e alcançamos mais pessoas. Embora na SMV, sejamos uma organização de voluntariado sénior, consideramo-nos uma organização aprendente. Tudo o que vem é para aproveitar, para construir, para complementar o que são as nossas ideias. É sempre útil ouvir os outros e trabalhar com os outros. O trabalho em rede é fundamental. No projeto Mentoring dizemos  que somos um projeto em permanente construção e a SMV, para crescer e estar atualizada para prosseguir os seus fins precisa de ser essa organização aprendente aberta aos outros. Concretamente, este encontro virtuoso entre a  SMV e a AMU, aconteceu pela mão da Professora Isabel Vieira, Amiga da SMV, que foi professora da Margarida Esteves da AMU e que nos pôs em contacto. É a rede a funcionar em que todos somos agentes!

Estás a tocar aí num dos aspetos também previstos nos objetivos da SMV, o da intergeracionalidade… esta troca entre o saber acumulado da experiência e os conhecimentos e atualização daquilo que vai surgindo de novo. Sentem isso nesta parceria?

Ana do Carmo Lopes – Absolutamente! Nós temos a intergeracionalidade refletida nos nossos Estatutos. Tem sido difícil … mas já se estão a dar-se alguns passos que considero importantes. Por exemplo, na AMU, encontramos gente mais nova, estamos a integrar pessoas mais novas nos nossos eventos e projetos, mas também a tentar sensibilizar os mais jovens para a importância do trabalho para a comunidade. Costumamos dizer que enquanto tivermos saúde física e mental vamos prosseguir este caminho de construção, mas também com um olhar posto no futuro. E o futuro só se prepara com os mais jovens.

Falando concretamente no “Prémio Esperança em Ação” também houve esse “caminho de construção”  conjunto, Francisco?

Sem dúvida. Desde o início houve um diálogo aberto e entendimento entre as partes. Era preciso um protocolo com regras e tínhamos como objetivo comum chegar aos estudantes. Por exemplo, sobre a tipologia de ajudas, tínhamos imensas ideias e possibilidades de materializar o prémio. Foi através do diálogo com a SMV que chegámos a acordo de que esse prémio fosse em equipamento informático.

Ana do Carmo Lopes – Sim, e correspondeu a uma necessidade real que continua a existir. Uma grande parte dos estudantes dos PALOP, fundamentalmente da Guiné, não trazem nem computador nem conhecimentos sobre o a utilização das tecnologias. As TIC não constam dos currículos até ao 12.º ano. Ora, é impensável estar numa universidade em Portugal sem essa ferramenta.

Reunião online de 14/12/2023 entre a SMV e a AMU
Reunião de 14/12/2023 com os termos do Regulamento para atribuição do Prémio Esperança em Ação concluídos. “Estávamos felicíssimos com o resultado alcançado!” relembrou a Ana Lopes

Francisco Maia – No balanço desta 1.ª edição, uma coisa que me impressionou foi ter percebido que o que mais agradou aos estudantes foi o facto de ser um computador novo e bom. Não só confirma esta questão da necessidade, mas também um sintoma do tipo de ajuda que estas pessoas normalmente recebem. Desta vez, foi diferente e beneficiou deste nosso trabalho em conjunto o qual se refletiu na satisfação dos jovens.

Houve também o envolvimento de uma empresa de jovens, a start-up Precision Revenue, que quis financiar o prémio?

Francisco Maia – Existiu um alinhamento de circunstâncias que foi ao encontro das necessidades de toda a comunidade: estudantes, professores, associações, instituições académicas, mas também do empresário Samuel Verhegge. A sua empresa queria financiar um projeto social, como forma de retribuir à sociedade o sucesso que a sua start-up alcançara nesse ano. E eu acho que isto é muito relevante, porque o efeito do projeto vai para além do prémio em si, há um impacto secundário ou indireto nas empresas que financiam, nas organizações do setor social que vêm os resultados da sua ação e, naturalmente, na melhoria das condições dos estudantes para estudar. É quase como um mini laboratório daquilo que deveria ser o trabalho da sociedade civil em prol da comunidade.

Neste momento está a decorrer uma campanha de angariação de fundos para apoio à 2.ª edição do prémio “Esperança em Ação”.

Francisco Maia – Fizemos um  balanço muito positivo dos resultados da 1.ª edição e achámos importante não perder o ritmo. Está praticamente tudo alinhado para a 2.ª edição. Estamos a fazer esta campanha de angariação de fundos para abrir a possibilidade a outras empresas de se associar ao projeto e com a possibilidade de participarem no processo de seleção dos estudantes premiados.

Para finalizar, Francisco, fala-me um pouco de ti e como a AMU surge na tua vida?

Sou engenheiro informático, fiz o doutoramento na Universidade do Minho e mantive-me como investigador durante bastantes anos. Nos últimos 5-6 anos estive a criar empresas e a tentar transferir tecnologia desenvolvida na universidade para a indústria. A AMU surge na minha vida em 2012/13, quando o então presidente quis integrar pessoas mais novas para fazer a ponte com os jovens. E convidou-me para a Direção. Passado pouco tempo, essa pessoa teve de sair. Para não deixar cair os projetos, a vice-presidente, a Assunção Reis, desafiou-me a assumir a presidência da associação. E eu, inconscientemente, disse que sim! E as coisas acabaram por acontecer, às vezes de forma que nem imaginávamos, com projetos muito interessantes.

Site: https://www.amu.org.pt/

Ana Suspiro
Voluntária da Ser Mais Valia