José Luz, profissional com formação académica base nas áreas das engenharias e gestão: Eng. Eletrotécnica, Eng. e Gestão de Energias Renováveis, Eng. e Gestão de Energia na Indústria e Edifícios.
Faz parte da Ser Mais Valia desde novembro de 2020. É assessor da Direção para as TIC. No Grupo da Comunicação tem a componente dos recursos informáticos. Faz parte do Grupo de Literacia Digital e Tecnologia e integra a equipa da Formação Profissional.
Feita esta breve apresentação, vamos conhecer o nosso voluntário e associado.
GC (Graciela Pinheiro) – José Luz, integras a Ser Mais Valia desde novembro de 2020. Que motivações te conduziram até ela?
Encontrei a SMV numa busca por uma organização em que pudesse aplicar as minhas competências técnicas e experiência de vida, transformando parte do tempo livre que tinha passado a ter em algo significativo para mim, retribuindo à sociedade com o meu contributo para uma causa com que me identificasse. Procurava sentir-me útil e realizado numa organização com que compartilhasse valores comuns e, por outro lado, procurava vivenciar experiências que promovessem o meu crescimento emocional e intelectual, ampliando as minhas perspetivas sobre questões globais, enquanto conhecia mais de perto outras culturas, tradições e modos de vida.
GC – A Ser Mais Valia foi a tua primeira experiência no voluntariado?
Não, a minha primeira experiência foi numa corporação de bombeiros voluntários, que iniciei ainda como “cadete” (condição dos menores de 18 anos), onde permaneci cerca de quatro anos. Já mais tarde, integrei uma ONGA promotora de atividades de ar livre, como montanhismo e pedestrianismo, onde colaborei na organização de atividades e formações internas, e fiz parte dos corpos sociais.
GC – Regressaste recentemente da Guiné -Bissau. Na newsletter de dezembro falaste da tua missão. Queres reportar algo que consideres significativo e que mereça especial referência sobre o trabalho realizado?
A parte inicial da missão, realizada em Bissau no âmbito do projeto MCMF (Mais Conhecimento – Melhor Futuro), foi bastante exigente, tanto do ponto de vista da preparação diária das aulas, como da preparação das infraestruturas para as futuras aulas à distancia de Matemática e Língua Portuguesa. Contudo, como é habitual neste tipo de missões, foi muito gratificante pela empatia gerada com os alunos em tão pouco tempo e, pelo seu empenho e consequente evolução e resultados alcançados.
A segunda parte da missão foi dedicada à instalação de um sistema de alimentação ininterrupta com energia fotovoltaica para a maternidade do hospital de Cumura. Apesar das particularidades processuais próprias da região, a experiência foi particularmente agradável pela calorosa e empenhada receção dos anfitriões e pela colaboração da equipa local de apoio.
Outro aspeto marcante em Cumura foi o contacto com a comunidade de leprosos associada ao hospital (patologia, aliás, que esteve na sua origem e lhe deu nome – Hospital do Mal de Hansen). Além disso, foi enriquecedor interagir com as comunidades de duas tabancas da região: uma representada por um grupo de anciãos e outra por jovens. Ambas expressaram, de forma muito clara, a sua gratidão e as expectativas que depositam em quem eventualmente possa contribuir para aliviar as suas carências.
GC – A frase ” Lutar sem desistir” refere-se a uma missão que fizeste em Cacine, Guiné -Bissau, que ultrapassou o que estava planeado. Podes contar-nos essa experiência/aventura, sem esqueceres o vídeo que fizeste?
A frase não é de minha autoria mas reflete muito bem o espírito necessário para missões com este tipo de enquadramento:
A missão, durante cerca de dois meses, consistiu em aulas de TIC para alunos do ensino secundário em Cacine, o que, obviamente, requeria pc’s em condições razoáveis.
Aconteceu, porém, que os pc’s disponíveis tinham entre 20 e 30 anos, com teclados em idiomas diferentes (sueco, italiano, etc.), e haviam ficado sem uso regular durante a pandemia, enfrentando condições ambientais extremas como calor, humidade e poeira).
Não sendo eu propriamente técnico de informática, muito menos de hardware, vi-me na contingência de ter que fazer alguma auto-capacitação, e alguns malabarismos, para conseguir colocar (e manter no dia-a-dia…) os pc’s a funcionar, o que foi minimamente conseguido.
Nesse contexto, o responsável local solicitou-me que produzisse um vídeo ilustrativo da precaridade das condições existentes, para sensibilizar os seus contatos na Suécia e angariar fundos para a aquisição de novos computadores.
Se eu não era qualificado como técnico informático, também não tinha experiência que correspondesse a essa solicitação, mas pelo menos os resultados decorrentes da aprendizagem que tive que fazer para essa minha première foram bons, já que num curto espaço de tempo os fundos foram angariados, e os novos computadores foram adquiridos em Bissau, chegando a tempo de serem preparados para uso futuro.
GC – Estiveste envolvido no projeto para São Tomé e Príncipe ” Energia para o Futuro”. Em que consistiu esse projeto?
Tratou-se de um sistema fotovoltaico com armazenamento em baterias, destinado a alimentar um centro de formação profissional, que foi desenvolvido na vertente técnica conjuntamente com o voluntário Edmundo Cardeira.
Foi um interessante projeto, que permitiu explorar soluções técnicas vocacionadas para instalação em ambientes com recursos técnicos limitados (com uma solução que posteriormente evoluiu para a que foi concebida para Cumura). A instalação acabou por ser efetuada com a orientação presencial do Edmundo, que gentilmente cedeu parte das suas férias a este efeito.
GC – Além das missões em África estás envolvido em vários projetos e atividades em Portugal. O que fazes no projeto “da Horta para o Prato”?
Esse foi um desafio lançado pela Maria Helena Coelho, enquanto coordenadora dos projetos que a SMV desenvolve no Bairro Moinho das Rolas, em Porto Salvo (Oeiras). Consistiu na instalação de uma cozinha/cantina comunitária para a Associação Moinho em Movimento, destinada a servir a população mais carenciada do bairro.
A minha participação consistia na parte operacional / vertente técnica da instalação dos equipamentos da cozinha e trâmites legais inerentes ao seu funcionamento, tendo o projeto sido iniciado com uma candidatura a financiamento pelos Prémios Caixa Social, da CGD.
A dimensão do projeto acabou por extravasar um pouco o âmbito inicialmente previsto: as infraestruturas da cozinha evoluíram para uma instalação semi-industrial e envolveram trabalhos de construção civil e afins de alguma monta (rede de água e esgotos, gás, ventilação, instalações elétricas, segurança, etc.).
Por outro lado, o modelo de funcionamento foi repensado e consolidado com a elaboração de um Plano de Negócio Social que, além do objetivo inicial, contempla atividades com foco no aprofundamento da coesão social e na sustentabilidade económica do projeto.
GC – Em jeito de conclusão, queres acrescentar alguma informação que consideres oportuna?
Gostaria de destacar a diversidade de competências que as missões da Ser Mais Valia envolvem e que estão presentes na individualidade dos seus associados. Essa riqueza de conhecimentos e experiências, combinada com o trabalho em equipa, cria sinergias que nos permitem ir além, superar desafios. É um privilégio fazer parte desta organização, que transforma intenções em ações concretas que fazem a diferença, com impacto positivo nas comunidades onde atua.
Graciela Pinheiro
Voluntária da Ser Mais Valia