Dia Internacional para a eliminação da violência contra as mulheres (25 de Novembro)

“É preciso querer saber para saber como agir.” (Isabel Amorim)

 

O Dia Internacional para a eliminação da violência contra as mulheres começou a ser assinalado como um dia contra a violência baseada no género, em 1981, por activistas dos direitos das mulheres. A data foi escolhida para homenagear as irmãs Mirabal, três activistas políticas da Republica Dominicana que foram assassinadas a 25 de Novembro de 1960, por lutarem contra a ditadura de Rafael Trujillo (1930/1961).
Em 1993, depois de aprovar a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres, a Assembleia Geral das Nações Unidas designou oficialmente o dia 25 de Novembro como o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra as Mulheres, numa resolução adoptada em 7 de Fevereiro de 2000.

Sem menosprezar o combate contra a violência física e psicológica, penso que devemos alargar a luta a outras violências menos evidentes:
– a exploração laboral e a diferenciação salarial que menorizam as mulheres;
– a violência indireta que muitas mulheres fazem sobre si mesmas e sobre as outras mulheres ao aceitarem reduzir-se a objetos de adorno e chamarizes de audiência nos media.

Ângelo Soares
Voluntário da SMV

 

Violência, um flagelo a que não podemos fechar os olhos nem ser complacentes!

Maria Helena
Voluntária da SMV

 

Assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres é lembrar uma longa lista de gritantes realidades:
Violência Doméstica
Violência no Namoro
Assédio Moral no Local de Trabalho
Bullying
Assédio Sexual
Violência Sexual em Conflitos Armados
Tráfico Sexual
Mutilação Sexual Feminina
Casamentos Forçados
Em tempo de pandemia, tal como em tempo de guerra, agudizam-se todas as formas de violência em que a MULHER é a principal vítima.
É um imperativo moral agir em todas as frentes; da COMUNIDADE à FAMÍLIA e à JUSTIÇA.
Ouvir para Agir – é o lema.

Isabel Amorim
Voluntária da SMV

 

Mais importante que “a violência contra as mulheres” (abstracto) é a violência sobre cada mulher concreta que a sofre. Por vezes muito perto de nós.

José Alves Jana
Voluntário da SMV

 

O medo e a incompreensão estiveram sempre presentes na história das mulheres. Referimo-nos ao medo que se sente das mulheres sem medo, parafraseando Eduardo Galeano, e a incompreensão das mulheres face à capacidade de se tornarem nessas mulheres sem medo.

O preconceito relativo ao feminino é uma realidade ainda vivenciada mas igualmente alimentada pelas próprias mulheres. Vemos sempre o inimigo no outro, sem percebermos que somos, possivelmente, o nosso primeiro agressor.

Historicamente não foram proporcionadas às mulheresas circunstâncias ideais para a concretização de certas atividades, pelo que foram os homens os pioneiros – a quem foram dados os instrumentos e oportunidades – que estabeleceram o modus operandi em muitos campos de atuação. Sabemos que há outras formas, diferentes, possivelmente melhores, mas respeitamos a ordem instituída e pretendemos igualarmo-nos aos pioneiros.

Na realidade, não estamos a efetuar um exercício de libertação em nome de uma suposta igualdade entre géneros, mas a submetermo-nos a um padrão que socialmente é reconhecido como o válido, forçando-nos a um enquadramento para nos sentirmos aceites, porque atuantes de acordo com as normas, ainda que nos sintamos beliscadas nesse processo.

Atribuindo-se ao feminino características estereotipadas e estabelecendo uma normativização de atuação em determinados contextos, proporciona-se que seja assumido, ainda que inconscientemente, que devemos atuar de acordo com a expectativa do outro, com a finalidade de lhe agradar, outro que, no seu conjunto, será a sociedade.

Uma conversa amena entre amigas, transformou-se numa discussão algo apaixonada ao falar-se no tema da indumentária feminina e a sua significância cultural e social. Exercício de liberdade de expressão ou forma de submissão?

Uma mulher que se apresente velada pretendendo transmitir uma identidade de cariz religioso, encontra-se no exercício de uma liberdade individual ou reflete uma submissão a um sistema cultural e religioso opressor de matriz patriarcal, de tal forma intrincado na educação que ela recebeu que a leva a pensar que está livremente no exercício de uma escolha individual?

E, em contraposição, a mulher que se apresenta desnudada, designadamente nas redes sociais, encontra-se no exercício da sua liberdade ou, afinal, também se encontra submetida a um sistema opressor, que a pretende reduzir a um objeto meramente a ser apreciado e desfrutado? Até que ponto esta mulher está a exprimir-se e, portanto, a exercer um poder de agência enquanto indivíduo, ou apenas se dá a mostrar para ser consumida? E transformar-se em objeto de consumo é uma opção consciente ou uma forma inconsciente de submissão por ser esta a forma primitiva de ser apreciada?

Questões aparentemente menores proporcionam-nos exercícios reflexivos muito extensos, levando-nos a questionar até que ponto o olhar crítico do outro e a nossa tentativa de adequação ao mesmo condicionam de forma decisiva a nossa forma de atuação, afastando-nos da nossa essência.

O despertar da consciência permite-nos atuar pela diferença que existe em nós e torna-nos capazes de efetuar transformações no mundo, com a noção de que a nossa passagem não terá de se reconduzir à obtenção do conforto de uma validação social. Sem a diferença tudo estagna, nada avança, e para fazer diferente é preciso haver mulheres sem medo de efetuarem a caminhada de acordo com a sua visão, enquanto indivíduos, deixando a sua pegada no mundo.

Nov/2020

Leonor Travaços
Amiga da SMV