4 perguntas a António Pereira

 

APRESENTAÇÃO

Demos a palavra ao próprio António Pereira, 63 anos, professor desde 1977, licenciado em Filologia Românica e mestre em Ciências da Educação.

Missões realizadas: 11 missões, desde 2014, em São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau: 5 pela SER MAIS VALIA, 3 pelas Parcerias para o Desenvolvimento (Fundação Gulbenkian), 2 pela associação “PARA ONDE?” e 1 a título individual na ilha de Rubane, nos Bijagós.
Missão mais difícil:  Em São Tomé, em 2019, alojado numa associação com crianças em regime de internato. Trabalho com muitos aspetos gratificantes, mas difícil na gestão dos afetos, sobretudo nos casos de maior instabilidade emocional. Ainda hoje me emociono quando penso no meu amigo Nelson, um caso triste e dramático.
Missão mais intensa: Na Guiné-Bissau, o Kripor 3, em 2019, com os jovens bolseiros do Instituto Camões. Entre outros, o trabalho fora da sala nos espaços verdes de Bissau, na produção de poemas haiku, foi inesquecível e de grande qualidade.
Filosofia de trabalho: Criar festas da língua portuguesa em que a alegria e as emoções positivas conduzam ao conhecimento e às competências.
Método pedagógico: Autocorreção.
Máxima preferida: “Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão.” Madre Teresa de Calcutá
Passatempos: A horta em modo de produção bio (frutos, legumes, plantas para infusão e ervas aromáticas), a confeção de compotas e a culinária.
Projeto na forja: Aprofundar os caminhos da escrita criativa, sobretudo através da poesia.

1 – Estamos a celebrar o primeiro Dia Mundial da Língua Portuguesa, decretado pela UNESCO em novembro de 2019. Para ti, que tens trabalhado sempre na área da Língua Portuguesa, cá e em África, qual é o significado deste dia?
No mínimo, será mais uma forma de dar oficialmente destaque à língua portuguesa. Vai ser certamente um valor acrescentado à presença do português como língua oficial em cada vez mais organizações internacionais, bem como nos currículos de ensino de um número crescente de países.

2 – A UNESCO reconhece a Língua Portuguesa como língua global e de comunicação internacional. Ouviremos falar a nossa língua em Bruxelas, na ONU e noutras organizações internacionais?
Se fôssemos o Brasil na Europa, seria certamente mais provável que esse cenário se
tornasse real. Ainda assim, a crise económica no Brasil (que vem da era Pré-COVID-19) não ajuda nada, pois, como sabemos, uma língua é tanto mais forte quanto maior é o peso económico dos países que a falam.
No entanto, com o Dia Internacional da Língua Portuguesa, tenho a certeza de que ela irá ganhar mais peso em todas as organizações internacionais.

3 – Este reconhecimento vai ser importante para a promoção internacional da Língua Portuguesa?
Com a criação desta data-símbolo da nossa língua, o seu reconhecimento será reforçado, contribuindo para aprofundar o que já se conquistou, como, por exemplo, a classificação do português como uma das línguas que dá créditos nas universidades norte-americanas e o crescimento do ensino de língua portuguesa na China ou a perceção crescente do seu valor no mundo dos negócios.

4 – A Ser Mais Valia tem uma forte vocação para projetos na área da Língua Portuguesa, sobretudo nos PALOP onde tu participaste mais de uma vez. De que forma a SMV pode reforçar ainda mais esse apoio?
Uma das formas poderá ser o envolvimento em projetos com continuidade como o Kripor, o KriporMentoring e o protocolo recentemente estabelecido com o Instituto Camões para o reforço de competências em língua portuguesa na administração pública guineense.
Outra hipótese seria ver as possibilidades de acompanhar à distância os destinatários das formações orientadas pelos voluntários SMV. Facebook, e-mail, WhastApp, Skype… Enfim, o que fosse mais viável e eficaz caso a caso.

 

Por Isabel Amorim