4 perguntas a Ângelo Soares

4 PERGUNTAS a ÂNGELO SOARES *

 

1 – Ângelo, juntamente com a Elisa Santos, protagonizou a “Campanha 8000 Km em 80 dias”– uma verdadeira viagem rumo ao futuro. Como foi idealizada e onde nasceu esta campanha?

Não se pode dizer que protagonizei, os verdadeiros protagonistas são os seis jovens que vão beneficiar da campanha. A Elisa e eu só pensámos no melhor modo de lhes dar voz!

A campanha nasceu das duas missões que realizei em Moçambique no âmbito do nosso projeto FAMBA, a segunda acompanhado da Adriana Rente, nas quais a Casa do Gaiato e a Casa Madre Maria Clara sugeriram o apadrinhamento de jovens como forma mais eficaz de apoiar estas instituições. O apoio já teve duas edições anteriores, a primeira englobando também duas outras casas na Manhiça e Chicumbane (nestas dirigido a outras necessidades) e a segunda já voltada para os mesmos jovens, em que o mote foi “Enquanto vamos de férias, eles continuam a estudar”.

Por ter estado envolvido na génese deste apoio, sinto-me particularmente responsável pelo seu êxito. A Elisa foi fundamental nesta campanha e nas anteriores pela criatividade e ideias originais que sempre tem. Foram muitas conversas e trocas de mensagens até nascer a campanha na forma que estamos a acompanhar.

2 – Os 80 dias terminam no final deste mês de setembro. Valeu a pena? O envolvimento e a participação de todos foram satisfatórios ou é necessário divulgar mais e melhor?

Creio que, independentemente do resultado que consigamos, vale sempre a pena. Damos a conhecer histórias de vidas com dificuldades e problemas mas também cheias de entusiasmo, de sonhos e de vontade de os concretizar. No entanto, não escondo que ficarei muito triste se não chegarmos ao objetivo económico que nos propusemos atingir. Os nossos seis apadrinhados merecem esse apoio para que os seus projetos de vida possam tornar-se realidade. Por os conhecer pessoalmente, dou a cara pela seriedade com que encaram as suas responsabilidades.

Não sei avaliar o envolvimento e participação, mas acredito que os associados da S.M.V. tomaram a sério esta campanha e a divulgaram entre amigos e conhecidos. Muito mais do que os posts no Facebook, as newsletters e as notícias no nosso site, são os contactos diretos que motivam a que as pessoas ajudem na medida das suas capacidades, até para podermos explicar de viva voz que estamos a lidar com entidades credíveis que darão bom uso ao apoio que lhes dermos.

Um último esforço de dinamização entre os associados e seus amigos, nesta reta final da campanha, seria extremamente importante para atingirmos os valores necessários.

3 – Sei que tem uma longa experiência de voluntariado e de trabalho para a comunidade. Qual é ou quais são as suas áreas de eleição, aquelas em que o coração comanda?

Desde que deixei a vida profissional, há seis anos, entendi que deveria dedicar-me mais ao voluntariado, sem me prender exclusivamente a uma organização.

Sou fundador e um dos coordenadores do núcleo da Maia da Refood, que assiste mais de 70 pessoas com necessidade através da recolha de excedentes de alimentos em estabelecimentos de restauração e grandes superfícies. Sou também diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar do Porto, estrutura que dinamiza e articula a atenção da Igreja para os problemas que afetam as famílias, desde a preparação séria para o matrimónio até aos vários desafios da vida em casal e em família. Tenho colaborado ainda com a residência que a Obra do Frei Gil tem no Porto, onde acolhe crianças e jovens em risco, ajudando à organização do respetivo sistema de gestão da qualidade.

Tenho de confessar que o trabalho que, em resultado do FAMBA, faço com alguns jovens moçambicanos ligados ao Gaiato, os três apadrinhados e mais alguns, é aquele em que o coração comanda. Tem sido muito interessante e enriquecedor conversar com eles através das redes sociais, com muita frequência, ajudá-los a crescer como estudantes, como cidadãos e como pessoas de bem. Falamos um pouco de tudo e é gratificante ver que me pedem opiniões e conselhos, mostram curiosidade pelas diferenças culturais e pelo que se passa fora do seu mundo habitual. É uma espécie de mentoria, só que nada organizada e muito ao sabor da vida e das necessidades de cada um.

4 – É voluntário da S.M.V. já com trabalho realizado no terreno e em ideias para novas ações. A S.M.V. inspira-o ou é mesmo a sua enorme vontade de trabalhar e de colaborar?

Gostei da Ser Mais Valia desde o primeiro contacto, ainda como projeto Mais Valia, da Gulbenkian. Tem-me ajudado muito a reforçar a convicção de que a idade pode ser um enorme capital capaz de render juros muito elevados se soubermos pôr toda a experiência adquirida ao serviço das pessoas. Sem querer mencionar ninguém em especial, as histórias das missões e a energia e entusiasmo que continuo a constatar na grande maioria dos colegas são inspiradoras e motivadoras.

Quanto à vontade de trabalhar e colaborar, essa mantém-se intacta. Há um projeto que infelizmente não pudemos ainda lançar e que gostaria imenso de ver acontecer. Trata-se de conseguir apoiar a Casa do Menino Jesus, na Manhiça, e o Centro das Irmãs Servas Santas Maria do Cenáculo, em Chicumbane. São duas casas em que se desenvolveram as missões do projeto FAMBA, nas quais identificámos um conjunto grande de carências e de necessidades de apoio estrutural, que transcendem a capacidade da SMV. Será necessário desenhar projetos abrangentes, com recurso às comunidades em que se inserem e a parcerias institucionais, em Portugal e em Moçambique, para promover a sustentabilidade das duas instituições, que desempenham com enormes limitações papéis fundamentais nessas comunidades.

 

* Ângelo Soares, “tripeiro”, 66 anos, casado há quase 40, com 3 filhos, 3 noras e um neto.
Engenheiro na Efacec durante 37 anos onde desempenhou variadíssimas funções.
Actualmente, para além do voluntariado, onde é muito activo, tem como interesses a aviação e automóveis clássicos, especialmente FIAT. Como desporto, é praticante regular de natação.
É curioso do Mundo, gosta de viajar, sobretudo em família, e de conhecer outros ambientes e culturas.
É associado da S.M.V. desde a primeira hora e é um voluntário entusiasta; muito participativo e já com trabalho no terreno.

 

Recolha por Isabel Amorim
Voluntária da SMV