A CULTURA DO ENVELHECIMENTO ATIVO

A SER MAIS VALIA (SMV) E OS PROJETOS DE INOVAÇÃO SOCIAL DA FUNDAÇÃO GULBENKIAN*

Calouste Sarkis Gulbenkian nasceu a 23 de março de 1869 em Scutari, atualmente Istambul, e morreu a 20 de julho de 1955 em Lisboa. De origem arménia, nascido no Império Otomano, Calouste Gulbenkian foi um homem de negócios, colecionador de arte e filantropo que, desde muito cedo teve contacto com línguas e culturas diferentes. Estudou em Marselha e em Londres, no King’s College, onde se formou em Engenharia e Ciências Aplicadas com classificação exemplar.
Apesar da sua paixão pela ciência e biologia, o seu percurso profissional acabaria por ser traçado, por insistência paterna, a partir do negócio de família, que consistia no comércio de tapetes orientais e querosene, um produto derivado do petróleo utilizado para iluminação e aquecimento. Calouste Gulbenkian não ficou por aqui. Estudou o setor da exploração de petróleo, que viria a revolucionar. E nunca se esqueceu da sua paixão pela arte, que cultivou até ao final dos seus dias, assim como as causas que abraçava, usando a sua fortuna para as financiar. Calouste Gulbenkian era, na sua essência, um filantropo, um humanista, um diplomata ou como ele se definia: “um arquiteto de empreendimentos”.
Com uma vasta cultura oriental e ocidental, Gulbenkian tinha visão e sentido de equilíbrio dos interesses em jogo na primeira metade do século XX. Graças à sua persistência, capacidade negocial e flexibilidade, desempenhou um papel fundamental como mediador nas negociações internacionais para a exploração das reservas de petróleo no território que é hoje o Iraque. Ao longo da sua vida, conduzido pelo seu gosto pessoal e de forma criteriosa, reuniu uma coleção de arte muito eclética, única no mundo. Adquiriu nacionalidade britânica em 1902 e morreu em 1955, em Lisboa, cidade onde passou os últimos anos da sua vida.
A prova máxima desta sua faceta filantrópica encontra-se em Lisboa, na fundação com o seu nome, e que deixou como legado “para benefício de toda a humanidade”, dedicada a quatro áreas fundamentais – Beneficência, Arte, Educação e Ciência – e que alberga todas as obras que Calouste Gulbenkian adquiriu ao longo de mais de 50 anos e que considerava como “suas filhas”. São cerca de 6.500 peças de valor incalculável, e que são acessíveis a todos, naquela que é uma das melhores coleções privadas do mundo.
Para além do Museu com o seu nome, o trabalho da Fundação continua a refletir o espírito de Calouste Gulbenkian designadamente na área da beneficência, com a criação e o apoio a projetos de inovação social não só em Portugal, como nas delegações em Paris e Londres, cidades onde Calouste Gulbenkian viveu, a diáspora arménia em todo o mundo e também os países africanos de língua oficial portuguesa, com os quais Portugal tem uma forte ligação. E foi nesse espírito que nasceu o projeto Mais Valia em 2012, com o tema do envelhecimento na agenda a requerer uma reflexão profunda e uma alteração de paradigmas, com a perceção e a importância de uma cultura favorável ao envelhecimento ativo que inclua os mais velhos e que lhes permita desenvolver o seu potencial e estimular as suas capacidades. Neste pressuposto, o Programa Gulbenkian Parcerias para o Desenvolvimento juntou a questão do voluntariado em desenvolvimento internacional para profissionais experientes com mais de 55 anos que colocam ao dispor de organizações dos PALOP o conhecimento e o capital humano acumulado ao longo da vida, desmistificando preconceitos e procurando ajudar a responder a novos desafios.
Acreditamos que este projeto, que hoje é a associação Ser Mais Valia, se inscreve também no espírito de Calouste Gulbenkian, que viveu ativamente até aos 86 anos em prol do bem comum.

Sofia Ascenso
(técnica do Programa Gulbenkian Parcerias para o Desenvolvimento).

 

 

 

* O projeto Mais Valia nasceu em 2012, sob a égide da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), com o tema do envelhecimento na agenda a requerer uma alteração de paradigmas, nomeadamente o envelhecimento ativo incluindo os mais velhos ao permitir-lhes desenvolver o seu potencial e estimular as suas capacidades.

Nasceu, cresceu e, de algum modo, ganhou asas próprias – SER MAIS VALIA – tendo, no entanto, contado sempre com o apoio da FCG.