A Paz

 

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos.

Sophia de Mello Breyner Andresen, A Paz sem Vencedor e sem Vencidos, in ‘Dual’

 

Janeiro é o Mês da Paz e nada melhor que este excerto do poema de Sophia para nos fazer reflectir sobre o conceito de paz.

Acabámos de trocar, com familiares e amigos, votos de boas Festas e de feliz Ano Novo, entre os quais, invariavelmente, o de paz. Desejámos a todos, a par de saúde, paz. Trata-se, portanto, de algo de grande valor e da maior importância para todos nós; algo que desejamos para nós próprios e para aqueles a quem queremos bem.

Mas que é a paz? Se procurarmos o significado da palavra num dicionário ou numa enciclopédia, encontramos, por exemplo, “ausência de conflitos”, “concórdia”, “harmonia”, “tranquilidade”, “serenidade”. Nos tempos conturbados em que vivemos, de guerras, discórdia, hostilidades, crueldade, a paz parece-nos, assim definida, ser algo inatingível, algo a que aspiramos, mas que cremos difícil de alcançar – um ideal, um sonho.

Como será possível contribuirmos para que o sonho se concretize, para que o ideal se torne real? Que poderemos fazer para termos um mundo sem dissensões, sem violência? Lutemos por um mundo em que exista respeito pelo outro, aceitação das diferenças, tolerância, solidariedade, indispensáveis ao entendimento e à harmonia. Lutemos também por um mundo em que imperem a verdade e a justiça, valores dos quais, segundo Sophia, nasce a paz, valores que acarinhamos e que, mais uma vez, temos dificuldade em definir; conceitos estudados por filósofos e pensadores, abordados de forma diversa por culturas diferentes e por diferentes ramos do saber, da metafísica à epistemologia. Desejemos, com a poeta, “a paz chamada liberdade” – na realidade, só num clima de paz podemos ser livres.

Mas a poeta exalta “a paz sem vencedores e sem vencidos”, a verdadeira paz, que pressupõe igualdade. Será essa que pedimos, será por essa que temos de lutar, diariamente, aspirando a “que a paz seja de todos”.

No entanto, num momento em que está iminente nova guerra, muito provavelmente novo conflito mundial, com a tensão crescente entre os Estados Unidos da América e o Irão, pouco nos resta fazer pela paz, além de seguir o conselho de Desmond Tutu: “Faz o teu bocadinho de bem onde estiveres; são esses bocadinhos de bem juntos que vão dominar o mundo”.

 

Maria Manuela Novais Santos

5 Janeiro 2020