Ageing in Place é um conceito recente para um desejo antigo: termos a possibilidade de viver e envelhecer no nosso contexto familiar social e cultural de forma segura e confortável. Ageing in Place – Boas Práticas em Portugal foi apresentado no passado dia 16 de Maio e foi tema de uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian
Tratou-se de uma conferência sobre Envelhecimento Digno, um assunto que não é novo mas que está na ordem do dia, que se diz «inovador» na medida em que se procura inovar as boas práticas com vista a um bom resultado.
Constança Paúl, da Universidade do Porto, abriu a conferência afirmando que Ageing in Place «é um velho conceito com novas roupagens» que nos foi ajudando a perceber . Qual o melhor lugar para envelhecer senão a própria casa? Viver no meio das suas memórias afectivas, referências culturais, valores simbólicos, vizinhança, um meio confortável e não hostil. A psicóloga referiu a pressão que o meio exerce sobre os indivíduos, a diferença entre o meio que exclui e aquele que aceita, o desconforto do desconhecido. Os mais velhos sentem em profundidade o apego à casa e às suas memórias familiares, daí o conceito Ageing in Place que poderíamos traduzir por Envelhecer em Casa – no seu lugar de afectos .
Constança Paúl deixou-nos ainda a equação para garantir o sucesso deste conceito: casa/saúde/dinheiro/mobilidade/rede de pessoas e apoios.
António Fonseca, da Universidade Católica, fez a apresentação do estudo que coordenou e que deu origem Ageing in Place – Boas Práticas em Portugal , onde são elencadas as boas práticas já existentes no nosso país. De Norte a Sul, iniciativas inovadoras no sentido de apoiar os mais velhos, quer em casa quer no exterior, para actividades culturais, exercício físico, consultas e outras.
Para seguir e chegar mais perto de quem faz bem, não há como aceder ao «Guia de Boas Práticas» das entidades promotoras e dos seus projectos de combate ao isolamento e de melhor vida no quotidiano dessas pessoas. A Associação Ser Mais Valia surge no Guia como um projecto em que os mais velhos podem e devem intervir na vida da comunidade.
O Guia conclui que a maioria das iniciativas resulta de políticas desenhadas, sobretudo, por municípios, IPSS e baseadas na percepção real do que as pessoas mais velhas necessitam e de medidas diferenciadas para continuarem a viver nas suas casas.
Após a apresentação dos trabalhos, Laurinda Alves moderou um painel constituído por uma gerontóloga com
projectos na Baixa de Lisboa, uma Assistente Social de Coruche e o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Mértola. Todos eles desenvolvem projectos locais para e com os mais velhos e cada um deu a conhecer esses mesmos projectos que vão de encontro às necessidades reais dos mais velhos da zona onde vivem e cujas carências conhecem em profundidade.
Promovem saídas, jogos, leituras, acompanhamento a consultas e outras actividades de grupo. Cada actividade não é meramente de distracção mas também promotora da experiência de vida de cada um, das suas ferramentas e interesses. Todos usaram a palavra TEMPO – tempo para os mais velhos. Uma curiosidade: uma Ludoteca infantil que, por falta de crianças, se transformou em ludoteca para os mais velhos. Outra: uma guardadora de cabras que lê e pinta.
Rapidamente se passou para o diálogo com o público presente e os exemplos de boas práticas surgiram: a designer que trabalha com os menos jovens e que prefere «olhar para trás para viver o futuro…»; o outro que diz «…o futuro são os nossos mais velhos». O debate continuou e muitos seriam os bons exemplos a contar, entre eles o da Associação Ser Mais Valia. O resumo da tarde seria: Ageing in Place = Proximidade/o melhor nas melhores circunstâncias para cada um/sentimento de pertença = reforçar a importância dos mais velhos.
Isabel Amorim