Com António Pereira em … Bissau

António Pereira tem estado em mais uma missão em nome da Ser Mais Valia (SMV), desta vez em Bissau. Iniciou-a em princípios de fevereiro a lecionar uma turma para funcionários do Ministério da Administração Pública e outra do Ministério da Agricultura. As 20 aulas de 3 horas da primeira turma já terminaram. Foi uma festa. Dos 23 formandos, 22 foram certificados. E os alunos ofertaram-lhe um traje de pano de pente, uma distinção elevada na Guiné-Bissau que significa gratidão para toda a vida. Na sua avaliação, o António pensa que os formandos ficaram com “uma apreciação mais elevada” que a sua sobre os resultados. “Foram obtidos alguns pequenos resultados, sobretudo no cuidado com a escrita, melhoria da caligrafia – começar a frase com maiúscula e terminar com sinal de pontuação – e alguma coisa mais. Não sei disto tudo o que vai ficar. O mais provável é que não tenham outra oportunidade para melhorar a sua competência na língua portuguesa. Como forma de ajuda, deixei-lhes alguns documentos de consulta e fontes que podem consultar, tanto para eles, como para o apoio que possam vir a dar aos filhos e aos sobrinhos, um grau de parentesco que tem aqui muita importância.” A turma do Ministério da Agricultura teve um início atípico, por motivos alheios ao formador, tendo começado com poucos alunos. Depois normalizou, o que “obrigou a um trabalho meu de compensação para serem cumpridos as aulas e os objetivos previstos”. Na hora deste apontamento, as sessões letivas estão a terminar.

Entretanto, a primeira turma foi já substituída por outra, desta vez, e para lá do programa inicial, para funcionários administrativos da Universidade Amílcar Cabral e alguns docentes da casa.
Um pequeno pormenor: 3 horas de manhã e 3 horas de tarde, durante cinco dias, são 30 horas de trabalho letivo em sala com 30 alunos, por semana. Apesar de voluntário, é muito mais que o horário semanal de um professor no ativo em Portugal. E no caso do António, durante dois meses. É obra!

Além deste trabalho contratualizado à partida, o António tem realizado também seminários no Centro Cultural Português. “Essa atividade nasceu em julho passado, no âmbito do projeto Kripor, também da Ser Mais Valia: 100 horas de aperfeiçoamento em língua portuguesa para alunos que irão, como bolseiros, frequentar o ensino superior em Portugal. Como complemento do tempo de formação, criou-se a figura de seminário aberto, portanto para os alunos mas acessível a outras pessoas que quisessem participar. Sempre na área da língua portuguesa: a acentuação, o uso do hífen, o acordo ortográfico, poesia contemporânea, entre outros temas.”


O António tem (ainda) outras linhas de ação para lá do trabalho previsto à partida na missão que aceitou fazer pela SMV. Sempre que possível, “acompanha”, na língua portuguesa, os funcionários do Hotel Coimbra, dando ainda apoio a um ou outro jovem que lhe pede ajuda. “De vez em quando encontramo-nos, levam trabalhos, trazem trabalhos, num regime aberto.” E, a pedido de um aluno do Kripor de 2017, dá apoio ao Grupo de Poetas Vivos, aos domingos, ajudando-os a melhorar o português dos seus poemas.

Desta vez, a missão do António teve um “brinde”. No último dia de fevereiro, portanto a meio da sua missão, coube-lhe receber outros dois voluntários da SMV, Maria Espírito Santo e o subscritor destas linhas, que vinham, durante um mês, dar continuidade ao seu trabalho em mais quatro turmas. De sozinho, passou a estar acompanhado, com o que de bom e menos bom isso sempre tem. “Foi uma ‘mais valia’ muito, muito especial. São duas pessoas que eu já conhecia, mas sem conhecer. O convívio diário, em trio sempre de mão dada, permitiu-me descobrir duas pessoas muito interessantes e muito divertidas. Antes, estava, não preocupado porque sabia que todos faríamos um esforço para que tudo corresse bem, mas na expectativa de como seria. Tudo tem corrido bem sem esforço nenhum, o que me dá uma satisfação muito grande.”

No momento em que este balanço é redigido, não se sabe se a atividade da missão vai ser suspensa por causa da pandemia, se o espaço aéreo português vai ser fechado… Mas isso não impede que o trabalho para mais uma semana esteja orientado. As cópias dos materiais de trabalho em sala foram já pedidas. A vida continua. Quanto ao modo… depois se verá.

 

José A. Jana
Voluntário da SMV

 

* António Pereira foi professor de Português e Francês e formador de professores na E.S.E. de Lisboa e Fac. de Letras da Univ. de Lisboa. É associado da SMV. E foi no âmbito de uma missão do Kripor, em 2019, que desenhou o actual projecto da SMV e do Instituto Camões em Bissau este projeto de “Reforço de competências em Língua Portuguesa na Administração Pública da Guiné-Bissau”.