Dia da ONU (24 de outubro)

Nações Unidas !

 

«Dia 24 deste mês é o DIA DAS NAÇÕES UNIDAS. Escreves um texto sobre isso? O que são as N. Unidas (tu conheces bem…) e o que se celebra esse dia» e eu engoli em seco, mas não podia dizer não à minha amiga. Há dias estou a pensar com terror nesse tremendo «tu conheces bem». Eu conheço só o que calhou-me em sorte ver e viver com as NU, muito pouquinha coisa. Passar pela internet produz tonturas: a página da organização traz toneladas de multifacetada e variadíssima informação nas hiper dinâmicas news.

«Vás para ver que não consegues nada fazer e que ninguém se importa com isso?», perguntou o médico enquanto redigia o atestado que coroava a papelada da minha candidatura. «Isso só serve para legitimar com mínimas acções inconsequentes os enormes abusos dos poderosos», disse-me um dos meus professores aquando a minha despedida. Troquei a terra sul-americana pela absolutamente desconhecida, enorme, pretíssima África. Já em Bissau, um empresário belga troçou: «Os Voluntários das NU são o tráfego de profissionais baratos mais lucrativo do planeta».

Fui, vi e não sei se venci. Muito do que quis fazer nesses dois anos não se materializou, muito do que fiz desmaterializou-se sem barulho. Pouca coisa? Talvez. Não sei muito bem. Sei que me apoiaram pessoas dos cinco continentes que, daquele pequenito gabinete do PNUD, iam trabalhar quotidianamente em campos, mercados, escolas, pescas, construção ou indústria guineenses. Ensinaram-me a convivência nesse mundo que no início pensei ser um desvario de García Márquez.

Trinta anos no Portugal que emprestou às NU um excelente e reeleito Secretário-geral; cujo PR pede multilateralismo a 193 estados em Assembleia Geral, cujos escolares respondem às NU limpando as praias.

Salvaguardar a paz, proteger os direitos humanos, instituir justiça internacional, promover o progresso económico e social são os objetivos enunciados em 1945.

Hoje implica: combater pandemias, coordenar a vacinação global contra COVID-19, vacinar 50% das crianças do mundo, fornecer alimentos e assistência a 97M de pessoas, ajudar e proteger 97,3M de humanos que fogem da guerra, da fome e da perseguição, colaborar com 196 países para evitar mais 2 graus na temperatura global, manter a paz com 90.000 soldados pelo mundo, tratar da crise global da água, assegurar com 80 tratados e declarações os direitos humanos, coordenar US $ 34 bilhões [milhares de milhões na designação europeia] para necessidades de 160M de pessoas, usar a diplomacia para prevenir conflitos, dar assistência eleitoral a 50 países/ano, ajudar mais de 30M de mulheres/ano em saúde sexual e reprodutiva, e muito mais.

Supõe muito poder, influências, dinheiro, e surpreendentemente neste mundo atual, não sei de pessoal das NU a sair nas notícias por escândalo ou corrupção, nem sequer a aparecer nos papers de Panama ou de Pandora. Felizmente, ainda cá estão.

Laura Garcia Borsani *

 

 

*Laura Garcia é uma mulher do Mundo; uruguaia de nascimento, apaixonada por Portugal onde viveu 30 anos. Aqui deu aulas de espanhol em empresas e fez trabalho de tradução. Curiosa de tudo, muito atenta ao que nos rodeia: ambiente, ecologia, pobreza, migrações forçadas. Hoje vive em Espanha.
Amante das artes e pintora.
Uma mulher curiosa.