IMPIM - Instituto Médio Politécnico da Ilha de Moçambique. Alunos reconstroem a fachada do Instituto (Curso de Restauro do Património Edificado).

Dia de Moçambique (25 de junho)

Índicas vivências

Falar das vivências profissionais que tive em Moçambique não é difícil, tal foi a intensidade do trabalho que realizei e a validade da obra que por lá ficou.

Fui para apoiar o relançamento do Ensino Técnico Profissional, desativado pelos dezasseis anos de conflito armado que ocorreu após a independência. Sabia-se que o ETP é um pilar fundamental de sustentação e de alavancagem económica de qualquer país. Tinha-se perfeita noção de que é impossível, em Moçambique, quiçá em África, fazer copy/past de modelos importados que, podendo servir de inspiração, virarão fracassos se não forem contextualizados de acordo com aquelas realidades. De facto, ouvir, compreender, dialogar, ajustar, criar compromissos, contextualizar, são os maiores desafios e as bases de sucesso. Erra quem pensa que os moçambicanos não sabem o que querem e o que necessitam; não há, pois, necessidade de escrever páginas em branco.

Quando, em Março de 2001, cheguei ao Índico, tinha comigo os sábios conselhos de um profundo conhecedor da realidade moçambicana: “aprender a ter paciência, esquecer o relógio e não estar com um pé cá e outro lá”.

IMPIM – Curso de mesa e de bar

Seduziu-me em Moçambique a perceção permanente da valia do nosso trabalho e ajuda. Pequenas coisas têm significados que palavras não conseguem traduzir.

Às vezes, “perdido” em recônditas paragens – as noventa e oito escolas profissionais são eminentemente rurais – dava comigo a pensar em como seria importante que os nossos professores, alunos, dirigentes, se pudessem aperceber das carências existentes, cotejando-as com os “desperdícios” que nos damos ao luxo de cometer.

Estas carências e a inerente comparação com as desigualdades entre os mundos que, num só planeta, se construíram, estão patentes nas palavras de Cristina Duarte, responsável da ONU para África: “Enquanto uns vão a Marte por divertimento, há 600 milhões de africanos sem acesso à eletricidade”.

 

IMPIM – Encerramento do Curso de Reconstrução do Património Edificado

Em Janeiro de 2009, a convite da Fundação Portugal África e do Instituto Camões, o então Ministro da Educação de Moçambique – Aires Aly – visitou Portugal para acompanhar as ações de formação que, em escolas e universidades portuguesas, eram dirigidas a professores  do ETP de Moçambique: “não dar o peixe, ensinar a pescar”.

No jantar em sua honra, realizado no Porto, referiu que “os presentes estavam perante um ministro de um país muito rico”. Entreolhámo-nos todos até à descodificação da provocatória frase: “a pobreza de Moçambique decorria apenas da pobreza dos moçambicanos em competências profissionais, de tal modo que, possuindo-as e mobilizando-as, possam explorar e gerir as imensas riquezas que o país possui”.

Não é preciso dizer mais nada para compreendermos a necessidade de se ajudarem os países africanos que, pela Historia e língua comum, são países nossos irmãos.

Então, com sadia disponibilidade, com seriedade, com adequação, com sentido da realidade, sem impor, com diálogo e sem arrogâncias, teremos sempre uma palavra a dizer.

Olhemos para a Ser Mais Valia e saibamos apoiá-la.

 

José Mingocho de Abreu
(Ex-consultor residente do ETP – FPA)