Dia Internacional da Língua Materna (21 de fevereiro)

Uma língua que desaparece é um mundo que se acaba.

George Steiner

 

 

A escolha da data – 21 de fevereiro – para celebrar o Dia Internacional da Língua Materna pretendeu homenagear os mártires do “Movimento da Língua”, nome por que ficou conhecido o protesto em Daca, violentamente reprimido pelas forças policiais, dos estudantes da Universidade que, no dia 21 de fevereiro de 1952, se manifestaram pelo direito a que o bengali fosse reconhecido como língua nacional do Paquistão.

A ONU reconhece a relevância da diversidade linguística e cultural, que são componentes essenciais para sociedades sustentáveis em todo o mundo e justifica a importância da celebração do Dia Internacional da Língua Materna ao afirmar que as línguas são os instrumentos mais poderosos para preservar e desenvolver o nosso património tangível e intangível. Todos os movimentos para promover a disseminação das línguas maternas servirão não apenas para encorajar a diversidade linguística e a educação multilíngue, mas também para desenvolver uma consciência mais plena das tradições linguísticas e culturais em todo o mundo e para inspirar a solidariedade baseada na compreensão, tolerância e diálogo.

Estima-se que cerca de metade das quase seis mil línguas existentes no mundo corre o risco de desaparecer, admitindo-se que até 2050 esta percentagem possa vir a aumentar velozmente. A perda de uma língua representa a perda de um legado cultural que ajuda a resumir os testemunhos seculares da população que a fala.

Num texto de opinião, que assinala o Dia Internacional da Língua Materna, o professor António Moreno da Universidade de Aveiro, elenca as diferentes causas que estão na origem do desaparecimento das línguas, apresentando alguns exemplos que ilustram a extinção que se tem verificado ao longo dos últimos anos. Um dos exemplos apontados é o panorama linguístico do Brasil onde, das cerca de mil línguas ameríndias faladas no século XIX, restavam, no final do século XX, pouco mais do que duas centenas. A situação é ainda mais preocupante, se pensarmos que das 6 mil línguas existentes, apenas cerca de uma centena possui um registo escrito. Então, conclui o professor Moreno, “a morte das línguas é também a desertificação cultural do mundo.

 

Tema deste ano

O tema deste ano é “Utilização da tecnologia para a aprendizagem multilingue: Desafios e oportunidades”. Sem descurar a língua materna, pretende-se realçar o papel da tecnologia para enfrentar os desafios que hoje se colocam à educação, nomeadamente no que toca ao desenvolvimento do ensino das línguas e a uma aprendizagem universal de qualidade, garantindo oportunidades de aprendizagem ao longo da vida equitativas e inclusivas. São da Diretora-Geral da UNESCO, Audrey Azoulay, estas palavras: A tecnologia pode fornecer novas ferramentas para proteger a diversidade linguística. Por exemplo, por via de instrumentos que facilitem a sua divulgação e análise, que nos permitam registar e preservar línguas, que por vezes só existem nas suas formas orais. Simplificando isto, a tecnologia permite que os dialetos locais se tornem em património comum. Contudo, como a Internet [também] representa um risco de uniformização linguística, devemos estar conscientes de que o progresso tecnológico só servirá o plurilinguismo enquanto nos esforçarmos por assegurar que o faça.  

Para celebrar este dia, a UNESCO organizou uma conferência on-line a partir de Paris. Também em Portugal se assinala esta data, com a realização de múltiplos eventos por iniciativa das autarquias, escolas, universidades ou bibliotecas.

 

https://eurocid.mne.gov.pt/eventos/dia-internacional-da-lingua-materna
http://uaonline.ua.pt/pub/detail.asp?c=33323
http://www.ethnologue.com/
https://unric.org/pt/dia-internacional-da-lingua-materna-a-alianca-com-a-tecnologia/

 

Margarida Mouta
Voluntária da SMV