Industrialização: solução ou problema?
Em 1989, a ONU proclamou este dia como da (urgente) Industrialização de África. Desde então, a industrialização consta das preocupações tanto da ONU, tal como da União Africana.
Ao longo da História, as riquezas de África têm sido objecto de cobiça, partilha e exploração por parte de impérios coloniais e de empresas de dimensão cada vez mais internacional. Levam de África as matérias primas e transformam-nas. Depois vendem o produto industrial no mercado nacional e internacional. Por que não desenvolver a indústria em África, para que os povos africanos possam usufruir das suas riquezas? Daí a urgência referida.
Contudo, as coisas nem sempre são tão imediatas como parecem, pois a industrialização é um fenómeno complexo.
A criação de uma indústria cria postos de trabalho, cria riqueza. Mas importa não esquecer que a criação de uma indústria mexe com o sistema local da economia. A criação de uma fábrica de farinha de peixe pode absorver o peixe que era a base da alimentação da população. Desse modo, ao mesmo tempo que cria riqueza, também cria pobreza. Mas não para os mesmos, é claro.
A Industrialização pode ser uma forma de quem tem capital para investir aproveitar a mão de obra barata, a falta de legislação protetora das pessoas e do ambiente e outras facilidades que em África se podem encontrar.
Para que África beneficie da industrialização de África, é importante que entre os africanos haja iniciativa empresarial, capital disponível, mão de obra qualificada, capacidade de gestão, integração nos mercados internacionais… bem como estabilidade política e combate à corrupção. Ah, e cuidado com a sustentabilidade ambiental. Ou seja, África precisa de caminhar em todas as frentes.
África é um continente muito desigual. Mas, no seu conjunto, é ainda um continente pobre, com alguns países mesmo muito pobres. Contudo, em mais de metade dos países há já uma “estratégia de industrialização”. Decorre atualmente a Terceira Década do Desenvolvimento Industrial para África (2016-2025). Ou seja, embora mais tardiamente, África está a acordar. Basta dizer que «a produção industrial de África tem crescido acima da média mundial». Mas é sabido que, como na “guerra fria”, por África passam as frentes de combate entre os principais aspirantes à liderança mundial.
Não é, por tudo isso, seguro que o principal benefício da industrialização seja para os africanos.
Talvez seja melhor dizer: Industrialização – solução e problema. Cabe aos africanos defenderem os seus interesses.
José Alves Jana
Voluntário da Ser Mais Valia