Missão no Moinho das Rolas

«Mulheres Africanas em Portugal» é o projecto  que a Fundação Aga Khan desenvolve no Bairro Moinho das Rolas – Porto Salvo, Concelho de Oeiras e que conta com a parceria da  Ser Mais Valia envolvendo 3 voluntários. Tendo como destinatárias mulheres de origem africana provenientes de Cabo Verde e o projeto está direccionado para a capacitação em Língua Portuguesa e o desenvolvimento das apetências para o Dança e Movimento.

Este projecto vai de encontro à filosofia e ao foco da Associaçâo SMV – estar onde podemos colaborar em acções de acompanhamento ou de capacitação, sempre com vista a um reforço de competências e de promoção da qualidade de vida dos destinatários. É uma acção local, num bairro próximo de Lisboa com uma população maioritariamente africana e onde a língua comum é o crioulo.

As mulheres, com idades superiores aos 55 anos, nunca frequentaram a escola ou tiveram de abandoná-la em idade regulamentar, a maior parte delas não sabendo escrever o nome e lendo apenas uma palavra ou outra. Todas sentem vontade de «assinar o nome em vez de pôr o dedo», de ler e de compreender o que está escrito.

É uma tarefa ambiciosa mas a vontade de aprender, o desejo de escrever, supera o cansaço de quem se levanta às 5 horas da madrugada para ir trabalhar e ainda tem energia para, às quartas-feiras ao final da tarde, se sentar a escrever e fazer exercícios vários de leitura e escrita.

As aulas de LP, com a duração de 2 horas, são orientadas por dois voluntários – Isabel e Raul (tendo sido iniciadas pela Teresa Macara que foi para outro projecto) – que procuram criar exercícios apelativos e com palavras do quotidiano: receita da cachupa, nomes dos ingredientes usados na culinária cabo-verdiana, nomes de família, poemas de poetas cabo-verdianos, letras de músicas… As aulas são intensas e num ambiente muito bem-disposto e colaborativo – todas participam com risos à mistura. É um processo lento e o objectivo imediato é conseguirem escrever o nome completo e ler palavras do dia a dia, não esquecendo a oralidade; falar com correcção a língua portuguesa, fazendo bom uso das palavras, dos tempos verbais e da construção das frases.

No dia 10 de Junho houve festa no bairro, uma festa religiosa dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, e os professores foram convidados. O Raul conta como foi:

«No dia 10 de Junho aconteceu festa no Moinho das Rolas.

Das várias comunidades cabo-verdianas, inclusive da diáspora europeia, Itália, Holanda, Luxemburgo… os participantes juntaram-se no bairro e fizeram do evento um encontro familiar.

A convite das alunas, as cozinheiras das iguarias, os professores também marcaram presença. A festa começou com a missa, presidida por um padre cabo-verdiano e animada por um magnífico coro. A procissão com a imagem do Sagrado Coração de Jesus, imagem que permanece, durante o ano, em casa da aluna Anita, congregou a comunidade desde a igreja da Lage até ao bairro, recebida num palco preparado para a música e para os discursos.

Às mesas, espalhadas ao longo da rua, foram chegando manjares preparados pela noite fora (as cozinheiras não dormiram), e postos ao serviço de todos os participantes. Pratos cabo-verdianos não faltaram, onde a cachupa foi rainha e estava magnífica.

Convém referir que os professores foram convidados, quase em primeira mão, a visitar a cozinha com os grandes tachos de comida… A festa continuou com música e dança, num convívio vivo e alegre.

A festa foi aproveitada pedagogicamente nas aulas de LP. As alunas, as cozinheiras, prepararam a ementa, acompanhada dos ingredientes da festa, escritos em pequenos folhetos. A festa serviu ainda de pretexto para a aprendizagem da leitura e escrita das palavras ligadas aos momentos festivos que as alunas destacaram como mais importantes.»

As actividades festivas do bairro fazem parte e são incluídas no processo de aprendizagem da LP e do Movimento e Dança; constituem uma ferramenta fundamental de ligação e de valorização da cultura do bairro. As aulas de Dança e Movimento são ministradas à quinta-feira pela voluntária Isabel Bettencourt, que faz a seguinte descrição:

«As aulas de Dança e Movimento têm sido um momento de descontracção e alegria mas, principalmente, um trabalho que tem visado o conhecimento do próprio corpo e de coordenação nesta fase inicial.

A idade das “jovens” alunas contribui para que existam algumas limitações, mas a vontade de ultrapassar as mesmas sobrepõe-se e o resultado já é visível – mais descontraídas e uma maior capacidade de perceber os gestos e habilidades solicitadas é cada vez mais notória.

Para uma etapa que se pretende de observação, com vista à continuidade do projecto, penso que o objectivo foi atingido.»

A primeira fase do projecto Mulheres Africanas em Portugal decorreu de Abril a Junho e será continuado em Setembro pois há muito trabalho a fazer. Contamos que mais voluntários adiram a esta missão a realizar por cá.

Isabel Amorim