A riqueza musical de África

A riqueza musical de África

 

O Dia Mundial da Música é uma boa oportunidade para realinharmos o nosso olhar sobre a realidade africana. É habitual vermos a África sobre o prisma do poder de compra, do valor financeiro que uma pessoa ou uma família ou um Estado têm à sua disposição para comprar bens de que precisam. Mas não é essa a única forma de riqueza.
A música mostra-nos uma África rica de sons, de ritmos, de poder – o poder da música. A força da música africana vem de profundas raízes culturais e do mais profundo interior pessoal e coletivo. Por outro lado, a música tem impacto igualmente profundo tanto na vida pessoal como colectiva. A música africana é, toda ela, um continente, tão variado como variada é a África. Mesmo a música subsariana, embora aparentada, tem diversas influências e linhas de evolução.
A música, aí, não é apenas som. É também dança, pois o som vem de todo o corpo e põe o corpo todo em ação. Ação que é também colectiva. Por isso, a música implica os outros, chama-os à participação. Depressa a música é dança, é magia, é narrativa simbólica que traz em si e reafirma uma identidade, é celebração coletiva, é comunicação com o além, é afirmação do ser em comum. A música, que é dança, que é comunidade, faz e expressa a identidade do povo que canta e dança e com-vive na arte que cultiva.

Foto de O Democrata (jornal de Bissau)

A riqueza cultural da música africana transbordou de África – pelas boas e pelas piores razões – e vemo-la, por isso, a florescer em múltiplas correntes e expressões culturais nas Américas e na própria Europa, não apenas nas comunidades africanas da diáspora, mas nas formas musicais que são já nativas de encontros musicais exteriores ao território africano. Gospel, jazz, blues, samba, a rumba… e tantos outros ritmos ou formas musicais são a expressão acabada de uma riqueza que contaminou, no melhor dos sentidos, a alma de todos os povos. «O Mundo seria outro sem a sua música», disse aqui Isabel Amorim, no Dia de África.
A África não é apenas e só a pobreza de uma economia monetarizada, se bem que mesmo neste domínio haveria muito a dizer. A música é outro tipo de riqueza, onde o humano ganha forma e substância. No Dia Mundial da Música, afirmá-lo é uma das formas de fazer justiça aos africanos e à sua cultura.

José A. Jana
Voluntário da SMV