Os próximos 3 anos com nova direção

 

Lincoln Justo da Silva nasceu em Lourenço Marques, hoje Maputo, e é médico pediatra, especialidade em que tem mantido intensa e diversificada atividade (ver síntese biográfica no final). Em Dezembro passado foi eleito como presidente da Direção da SMV para um mandato de 3 anos, que aqui nos antecipa.

O que o levou pessoalmente a candidatar-se à presidência da SMV?

Primeiro, os vários convites que recebi e quase todos irrecusáveis.

Desde 2004 que efectuo missões em Moçambique com alguma regularidade. Sinto-me por dentro das etapas do planeamento e execução do trabalho que constitui cada missão. Tenho, por isso, a convicção de reunir algum conhecimento sobre planeamento e execução de tarefas nem sempre fáceis e quase sempre longe de certa visão romântica de ir em missão para África. E partilho do conceito de que a cooperação constitui uma tarefa multidisciplinar, muitas vezes congregando diferentes Instituições que cooperam para a realização de um objectivo comum: a promoção do desenvolvimento e da cidadania em trabalho conjunto com os parceiros locais.

Desde sempre, senti-me integrado no espírito do Mais Valia, [projeto] ainda no âmbito da Fundação Calouste

Gulbenkian. Não consegui concorrer à primeira candidatura, mas estive atento à segunda. Acompanhei de perto e com muito interesse os trabalhos da primeira Direcção da Ser Mais Valia que realizou um notável trabalho de organização e consolidação da Associação. E gostaria de contribuir para manter esse rumo.

Quais são as principais apostas da nova Direção para este mandato de 3 anos?

São várias, mas as mais importantes são consolidar o trabalho da anterior Direcção, aumentar o número de membros, garantir uma boa comunicação interna (entre todos os membros) e externa (com outros actores e possíveis parceiros dentro da missão da SMV), procurar parcerias com outras Instituições. Promover a transparência e autoavaliação e, não menos importante, garantir a sustentabilidade financeira da nossa Associação.

Quais são as principais dificuldades que preveem?

A primeira, será encontrar meios de financiamento que garantam o sucesso das missões.

A segunda, será encontrar os voluntários com as competências e capacidades correspondentes aos objectivos de cada missão. Temos tido dificuldades no recrutamento de voluntários médicos e de enfermagem , em especial na área da Obstetrícia, Oftalmologia e outras de acordo com as necessidades das Instituições locais que nos pedem apoio.

A SMV é uma ONGD de pequena escala pelo que deve realizar missões em áreas muito específicas. Para isso terá de ter voluntários com competências e capacidades diversificadas. A possibilidade de realizar missões com voluntários mais novos (menos de 55 anos) vai permitir alargar a capacidade de intervenção.

A SMV tem tido uma vocação principalmente ”africana”: trabalho lá em África (nos PALOP) e trabalho cá com africanos (dos PALOP). É para manter?

A SMV é herdeira do Projecto Mais Valia, da Fundação Calouste Gulbenkian, que foi organizado em redor de uma bolsa de profissionais experientes, com mais de 55 anos, para executar projectos de cooperação nos PALOP. Por enquanto desejamos manter esta filosofia.

A pobreza, dificuldades na educação, saúde e desenvolvimento nos PALOP ainda é uma realidade incontornável. O problema tem uma dimensão enorme. A SMV actua sempre em consonância com os recursos locais apoiando os esforços para a melhoria de condições dos parceiros locais.

Em Portugal os alunos dos PALOP, bolseiros do Instituto Camões, apresentam  vulnerabilidades apreciáveis no domínio da língua portuguesa, nos conhecimentos necessários nos cursos a que se destinam e na inserção social nos locais onde ficam instalados. Existe, pois, muito trabalho a fazer para apoiar estes jovens, trabalho que tem sido desenvolvido de modo exemplar pela equipa coordenadora do Projeto Mentoring.

Gostaria de dizer que logo que surja uma oportunidade onde a SMV possa trazer valor a determinada actividade no âmbito da nossa Missão, faremos todo o possível para diversificar a nossa intervenção.

Se as coisas correrem bem, como estará a SMV dentro de 3 anos?

É difícil ver o futuro num tempo de incerteza. Mas gostaria de deixar a SMV com mais membros, em situação financeira sólida, uma Associação transparente, constituindo, com a sua experiência no terreno, um valor seguro no campo da cooperação.

 

Síntese biográfica

Nasceu em Lourenço Marques (Moçambique) onde terminou o ensino secundário tendo viajado até Lisboa, ingressando na Faculdade de Medicina de Lisboa, Universidade Clássica de Lisboa. Terminou a licenciatura em Medicina em 1970, tendo a seguir sido chamado para o serviço militar obrigatório. Prestou serviço militar como medico numa Unidade no leste de Angola, tendo passado à disponibilidade em 1974.

Ingressou no Internato de Especialidade de Pediatria no Hospital Santa Maria em Lisboa passando a especialista de Pediatria na Clínica Universitária de Pediatria. Foi Professor de Pediatria Médica na Faculdade de Medicina de Lisboa, de 1989 a 2008. Foi Chefe de Serviço de Neonatalogia da Clínica Universitária de Pediatria do Hospital de Santa Maria em Lisboa até 2008.

Coordenador Nacional do Sistema de Transporte do Recém-nascido em Risco pertencente ao I.N.E.M. que contribuiu de modo importante para a melhoria da mortalidade perinatal de Portugal na década de 80/90, do séc. XX. Foi Secretário Geral da ASSOCIAÇÃO EUROPEIA DOS DOCENTES DE PEDIATRIA de 1999 até 2003. Colabora com a Universidade Católica do Porto – Instituto de Bioética, na formação, orientação de teses de mestrado e doutoramento em Bioética e Cuidados Paliativos Pediátricos.

Desde 2004, efectua com regularidade, missões em Moçambique e Guiné Bissau como Médico Pediatra voluntário. Dedica-se à formação e capacitação dos profissionais de saúde materna e infantil dos hospitais distritais e rurais bem como junto das comunidades remotas da Província de Niassa e Tete, em Moçambique, e nos hospitais de S.José em Bôr, Cumura e Escola Nacional de Saúde, na Guiné-Bissau. Voluntário na Associação João XIII que apoia os sem-abrigo na zona de Santa Apolónia, Lisboa, desde 2016.

Trabalha como Pediatra em clínica privada, em Lisboa.

É avô de três netos.