Quem somos, o que fazemos

QUEM SOMOS, O QUE FAZEMOS

Mafalda França, voluntária da Associação Ser Mais Valia, primeira presidente e actualmente presidente da Mesa da Assembleia Geral.

  • GC-Quem é a Mafalda?

Uma cidadã grata à vida, pela família, amigos, saúde e pela oportunidade de realização de projetos pessoais e profissionais no tempo escolhido.

Interessada no que se passa para além do seu “punhado” de terra, a vontade de conhecer e de fazer, não tem limites temporais nem geográficos.

Os “outros” são fundamentais no meu percurso de vida pois acredito que as sinergias resultantes do trabalho colaborativo, nos leva a fazer melhor.

  • GC- Fizeste parte do Projeto Mais Valia da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi o teu início no Voluntariado?

O “Projeto Mais Valia” da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) e a experiência de voluntariado sénior que lhe estava associado, é um exemplo da concretização de um projeto profissional que germinou na minha cabeça desde o tempo em que, no meu trabalho como educadora de infância, participei em processos de integração de famílias vindas dos “Palop” que, com uma cultura própria, vieram enriquecer o trabalho nas comunidades educativas.

Em janeiro de 2013, entreguei a minha candidatura ao Programa de Voluntariado Além-Fronteiras para maiores de 55 anos, Projeto Mais-Valia, que a FCG, através do seu Programa Parcerias para o Desenvolvimento, criou em dezembro de 2012.

No dia 4 de fevereiro 2014 cheguei a Cuamba (Moçambique) para iniciar o meu trabalho de formadora pedagógica dos monitores e supervisores das Escolinhas Comunitárias do Niassa (ECN), numa missão de voluntariado com a ONGD, Leigos para o Desenvolvimento (LD).

Após o regresso, mantive, em Lisboa, o trabalho com os LD, ao qual se juntaram a FEC (ONGD) e a Escola Superior de Educação Paula Frassinetti (ESEPF), trabalho que culminou com a elaboração do projeto Othukumame (juntos, em língua portuguesa) contendo as Orientações Pedagógicas para a Educação pré-escolar na Província do Niassa.

Em fevereiro de 2015, regressei numa segunda missão com os LD, para implementar a formação dos Recursos Humanos das ECN, agora com o programa de formação sustentado nos princípios pedagógicos definidos naquele projeto.

  • GC- Que motivações te conduziram ao grande desafio da criação da Associação Ser Mais Valia?

Quando, em 2012, a FCG lançou o Projeto Mais Valia muitos dos candidatos a voluntárioantevendo o aproximar da “dita idade de reforma” viram nesta iniciativa a oportunidade de continuar um percurso profissional que permitia mantermo-nos ativos num exercício de cidadania e intervenção social.

Em 2014, saíram, em missão, os primeiros voluntários integrando projetos de diferentes ONGD com trabalho no âmbito do Programa Parcerias para o Desenvolvimento da FCG. Esta proximidade institucional entre os responsáveis do Projeto Mais Valia e as ONGD com atuação nos Palop, permitiu aos “idealistas” deste Projeto identificar as dificuldades de recursos que no terreno se colocavam às organizações e que poderiam ser colmatadas com o reforço de profissionais com competências em áreas especificas de intervenção.

No regresso de missão e pelos testemunhos dos voluntários concluía-se que o cruzamento entre a motivação e a experiência profissional de uns e o conhecimento da realidade do terreno de outros, constituía uma  mais valia  na cooperação para o desenvolvimento.

  • G C – Integraste o grupo que deu origem à constituição da Associação Ser Mais Valia e lideraste a primeira direção. Podes falar-nos desse percurso?

Quando regressei da segunda missão no Niassa (março de 2015), soube que um grupo de voluntários motivados para refletir sobre como dinamizar a bolsa de voluntários Mais Valia, se vinha reunindo com alguma regularidade. Por vontade própria e abertura do grupo à minha participação nesta reflexão, integrei o mesmo, que passou a ser constituído por sete voluntários e que se designou Grupo de Reflexão Mais Valia (GRMV).

Esta reflexão foi sendo acompanhada pelos responsáveis do Projeto Mais Valia da FCG e alargada a um maior número de voluntários, que se iam mostrando interessados nesta discussão.

Em 30 de novembro de 2015, realizou-se um encontro de voluntários na FCG, para apresentação de um” Documento Orientador” contendo os pressupostos para a criação de uma associação de voluntários seniores que prolongasse, para além de 2016, o trabalho de cooperação no apoio ao desenvolvimento, prevendo-se a abrangência da sua ação a outras áreas de interesse do voluntariado sénior nos PALOP e em Portugal.

No final, foram conferidos poderes ao GRMV para desencadear os procedimentos e ações imediatas visando a criação da Associação passando o grupo a designar-se, a partir desta data, por Núcleo Pró-Associação Mais Valia (NPAMV).

Foi ainda decidido organizar grupos de trabalho cujos contributos pudessem valorizar e sustentar o projeto de criação da Associação e procurar o apoio de uma entidade numa base de “incubação” da Associação.

Em fevereiro de 2016, foi apresentado à responsável pelo Programa Parcerias para o Desenvolvimento da FCG, o plano estratégico do NPAMV com a definição das ações prioritárias e respetiva planificação.

GC – A Fundação Calouste Gulbenkian foi acompanhando esse percurso?

Todo este trabalho foi sendo acompanhado pela FCG através de reuniões de reflexão sobre o desenvolvimento do trabalho do NPAMV nos vários níveis da atuação, aferindo resultados e acertando a planificação.

Os trabalhos decorriam nas instalações da FCG (espaço que designámos por praça mais valia). No entanto, tornou-se urgente encontrar uma organização que nos acolhesse e funcionasse como “incubadora” da associação.

Em maio do mesmo ano, foi apresentada ao NPAMV uma proposta para assumir um projeto a realizar na Guiné (projeto KRIPOR) que resultaria de uma colaboração tripartida entre o Projeto Mais Valia, o Instituto Camões (IC) e o Núcleo (NPAMV), sendo esta uma forma de integrar o NPAMV nos procedimentos técnicos e logísticos. Este projeto deveria integrar o Plano de Atividades (PA) para 2017.

 

*   GC – E depois, Mafalda, qual o trabalho a seguir?

Para dar resposta às solicitações de participação nos projetos de cooperação para o desenvolvimento era necessário reforçar a bolsa de voluntários e captar novas competências, pelo que o PA/2017 previu o lançamento de candidaturas para novos voluntários.

Entretanto, foi elaborada a Proposta de Estatutos da Associação para aprovação, feitos os procedimentos legais para a criação da Associação, o Plano de Atividades da Associação/2017 e respetivo orçamento. Foram efectuados contactos com a Entrajuda visando a instalação da Associação no espaço Cowork Alcântara/ALE+, em janeiro de 2017, local que passou a ser a sede da Associação.

Em 29 de novembro de 2016, nas instalações da Fundação Calouste Gulbenkian, realizou-se a Assembleia Geral de voluntários da Ser Mais Valia – Associação de Voluntariado para a Cidadania e Desenvolvimento com a seguinte Ordem de Trabalhos: Aprovação do nome da Associação; Aprovação dos estatutos; Eleição dos órgãos Sociais para o triénio 2017-2019.

No dia 30 de novembro foi elaborada no Cartório Notarial a escritura de constituição da Associação Ser Mais Valia que contava com 46 associados, voluntários que transitaram da bolsa Mais Valia, da Fundação Calouste Gulbenkian.

Sob a égide da Fundação Calouste Gulbenkian teve lugar, em 30 de janeiro de 2017, a conferência “O QUE FAZEMOS COM O TEMPO”, momento em que foi feita a apresentação pública da “Ser Mais Valia – Associação de Voluntariado para a Cidadania e Desenvolvimento” tendo sido assinado o Protocolo de Colaboração entre a Fundação Calouste Gulbenkian e a “Ser Mais Valia”, representados no ato, respetivamente, pelo seu Administrador, Dr. Guilherme d´Oliveira Martins, e pela Presidente, Mafalda França Luz Pedro, visando estabelecer uma parceria entre as partes com vista à implementação e consolidação da Associação e dos seus objetivos.

  • GC- A Associação Ser Mais Valia é uma referência na área do Voluntariado Sénior?

Sem dúvida!

Não posso estar mais de acordo com a nossa Associada Graça Cardim, quando no encontro de comemoração do oitavo aniversário da Associação nos disse: A SMV é um caso que merece ser estudado e onde a recompensa se traduz no trabalho realizado e a realizar.

Alicerçada num plano de atividades anual, em grupos de trabalho e numa gestão de recursos humanos preocupada em corresponder simultaneamente ao perfil dos voluntários e aos projetos de cooperação em curso, a Associação Ser Mais Valia constituiu -se como uma boa prática no domínio do aproveitamento das capacidades individuais das pessoas mais velhas, dando – lhes a oportunidade de continuarem a ser úteis à comunidade num exercício ativo de participação e intervenção social, um dos pilares em que se fundamenta o paradigma do envelhecimento ativo.

Hoje a Associação SMV faz parte de um conjunto de 166 ONGD em Portugal e do grupo de 62 inscritas na Plataforma Portuguesa das ONGD. O trabalho de proximidade com as ONGD, permite-nos dar a conhecer a especificidade do voluntariado de competências, como um reforço nos seus  projetos de apoio ao desenvolvimento.

Somos parceiros ativos na Cooperação para o Desenvolvimento e a nossa ação concretiza-se através das Missões, dos Projetos e das Atividades que a SMV prossegue nas diversas áreas de atuação: Educação, Saúde, Cidadania e Desenvolvimento.

São os voluntários que com as suas competências e experiência acumulada, materializam a ação da SMV, dando resposta às carências previamente identificadas pelos parceiros de cooperação.

Oito anos decorridos, é tempo suficiente para confirmarmos que – O QUE FAZEMOS COM O TEMPO, é tão só, pôr em prática as motivações e expetativas que nos conduziram ao voluntariado sénior quando nos desligámos da vida profissional.

E NÃO SERÁ ESTE “TÃO SÓ” O MUITO QUE É PRECISO PARA DESPERTAR O INTERESSE DA ACADEMIA PARA OLHAR PARA A SMV COMO UM ESTUDO DE CASO?

SEREMOS NÓS SÉNIORES ATIVOS, CAPAZES DE DESPERTAR ESSE INTERESSE?

Fica o repto!

 

Graciela Pinheiro

Voluntária SMV