Umas semanas cheias de trabalho na Guiné Bissau

Entre 6 de Fevereiro e 3 de Março  a Manuela Novais esteve em Bissau a pedido das Aldeias SOS. A tarefa não podia ser mais aliciante: organizar duas bibliotecas escolares, uma no Liceu Politécnico, a outra na Escola Básica, e de proporcionar a dois elementos locais formação em “Organização, Gestão e Dinamização de Bibliotecas Escolares” a fim de prosseguirem, com os conhecimentos necessários, o trabalho iniciado. Além da Manuela, por via marítima, seguiram também livros, jogos didáticos e DVD que amigos, a Universidade Aberta e a Porto Editora generosamente doaram.

Aqui fica o relato destas semanas singulares em terreno de missão.

“Foi para mim um privilégio ter podido colaborar com a Aldeia de Crianças SOS de Bissau, testemunhando o espírito de solidariedade, dedicação e entrega que nela reina.

Embarquei neste projeto – Letras Vivas SOS – com o objetivo de organizar duas bibliotecas escolares, uma no Liceu Politécnico, a outra na Escola Básica, e de proporcionar a dois elementos locais formação em “Organização, Gestão e Dinamização de Bibliotecas Escolares” a fim de prosseguirem, com os conhecimentos necessários, o trabalho agora iniciado.

 

 

Tinha recolhido, no final de 2017, cerca de 700 livros, jogos didáticos, DVD, oferecidos por amigos e por duas instituições – a Universidade Aberta e a Porto Editora – que foram enviados pela nossa Associação para Bissau por via marítima. Contava poder tratá-los e colocá-los nas bibliotecas. Foi com alguma desilusão que voltei a Portugal sem que os livros tivessem sido desalfandegados – chegados a Bissau no dia 2 de Fevereiro, no dia 3 de Março, dia do meu regresso, ainda não tinham sido levantados….

No entanto, as desilusões não podem desmotivar-nos nem desviar-nos dos nossos propósitos! Embora não houvesse bibliotecas, havia milhares de livros, sobretudo manuais de diversas editoras, livros de literatura infantojuvenil e

excelentes monografias editadas e oferecidas pelo Instituto Piaget, ainda guardados em caixas de cartão no chão ou colocados em prateleiras em péssimas condições, cobertos de poeira e alguns já degradados.

Pois, à falta dos livros enviados, foi com esses que trabalhámos. A minha primeira tarefa consistiu na seleção e separação dos manuais do 1.º ao 12.º anos que estavam misturados, dos livros de literatura infantojuvenil e das monografias que se encontravam no Liceu Politécnico. Para não tirar tempo à formação, procedi à seleção desses materiais logo no primeiro fim-de-semana e durante a semana à tarde, depois das sessões com o formando. Posteriormente seriam enviados para o Jardim de Infância e para a Escola Básica os materiais que a essas escolas se destinavam.

O primeiro formando, do Liceu Politécnico, há muito desejava ser bibliotecário e foi com grande entusiasmo que recebeu os conhecimentos que lhe fui transmitindo ao longo das cerca de duas semanas de trabalho. Além da teoria sobre instalação, organização, gestão e dinamização de bibliotecas escolares, organizámos os manuais nas estantes

 existentes, provisórias, praticámos o registo, a cotação e a catalogação de algumas dezenas de livros.Foi com gosto que verifiquei a facilidade com que, nos  últimos dias, já o fazia autonomamente.

 

O segundo formando, da Escola Básica, não parecia estar muito interessado em receber a formação. Após as primeiras sessões, fiquei surpreendida com a sua adesão ao processo, que viria a manifestar-se de outras formas – não existindo qualquer estante para organizar os livros no espaço destinado à biblioteca, decidiu procurar em salas de aula estantes que não estivessem a ser utilizadas; encontrou quatro, que  ajudou a limpar, lavar e colocar na sala. Uma vez organizados os manuais do 1º ao 6º ano, também foi com agrado que se lançou no tratamento documental.

As expectativas do nosso parceiro foram largamente superadas – não existindo na Aldeia SOS qualquer biblioteca, e havendo em Bissau apenas duas ou três em centros culturais, pretendia, acima de tudo, que eu transmitisse o conceito de biblioteca escolar, que fizesse compreender a sua utilidade na Educação, e que desse orientações para a

instalação das bibliotecas da Aldeia. Foi essa a minha tarefa junto dos diretores e vice-diretores das escolas e de alguns professores com que contactei. Durante a minha visita ao Liceu, tive também oportunidade de falar com os

alunos, nas salas de aula, sensibilizando-os para a enorme utilidade da leitura, para aquilo que os livros nos oferecem. As orientações dadas aos diretores foram complementadas com um texto que lhes entreguei com recomendações sobre o equipamento e os consumíveis necessários ao funcionamento das bibliotecas. Além dessas recomendações, deixei-lhes um texto para dirigido aos professores – “Informação aos professores” – dando conta da abertura da biblioteca e do que nela têm à disposição.

Deixei aos formandos e ao Diretor do Programa todos os documentos utilizados na

formação e todos aqueles que são necessários ao funcionamento das bibliotecas, já com o nome das escolas respetivas no cabeçalho.

Enfim, foram umas semanas cheias de trabalho, mas extremamente gratificantes. Além do  caloroso acolhimento que nunca esquecerei – senti-me em casa! –, da simpatia que me dispensaram todos aqueles com quem contactei, foi extraordinário ver o entusiasmo com que os dois formandos se envolveram no projeto. E foi emocionante perceber a gratidão que todos sentiam e que não se cansavam de expressar: Não se consegue agradecer o suficiente a quem nos dá formação.

Manuela Novais