A Sol Sem Fronteiras (Solsef) é uma associação com que a SMV vai colaborar num projeto de Capacitação Pedagógica. Vamos conhecer esta parceira?
“De jovens para jovens” sintetiza, de algum modo, o espírito da Solsef. É uma associação (ONGD) sobretudo de jovens ao serviço em particular dos jovens e, através destes, das suas comunidades.
Nasceu em 1993 (tem 27 anos), tens os pés assentes em Lisboa e o coração sobretudo nos PALOP. A sua origem está no movimento de jovens com inspiração cristã, nos Missionários do Espírito Santo (católicos), e visa “promover os ideais da fraternidade e da solidariedade entre povos e particularmente entre jovens de países diferentes”. Não admira, por isso, que apostem muito no voluntariado de jovens e que, no terreno, trabalhem sobretudo com jovens, o que desde logo sugere saúde, educação e formação integral.
Dizem de si próprios: “O nosso trabalho desenrola-se em três áreas específicas: Cooperação para o Desenvolvimento, Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global e Voluntariado Internacional”. E isso quer dizer o quê?
Na Cooperação para o Desenvolvimento, trata-se de “ações concretas que promovem o desenvolvimento sustentado das populações em locais desfavorecidos nos países em desenvolvimento, em particular, nos PALOP”. Procuram criar “efeitos que se multipliquem no tempo e nos beneficiários diretos e indiretos, promovendo ainda uma maior autonomia para quem participa nos mesmos.” Não admira, por isso, que tenham como matriz de referência os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O Voluntariado Internacional concretiza-se através de projetos de curta duração, ou projetos “Ponte”, sobretudo de jovens e normalmente no mês de Agosto. A Solsef também promove e projetos, para maiores de 30 anos, mas sobretudo de longa duração, normalmente de um ano ou mais de imersão num PALOP.
A Cidadania Global é, de certo modo, o cimento que consolida toda a atividade. Procura sensibilizar e consciencializar a sociedade civil para os problemas do desenvolvimento no mundo global. Baseada nos valores da justiça, equidade e solidariedade, a ED visa uma mudança de mentalidades e comportamentos através de uma ação local.
Mas, a propósito de tudo isto, o melhor mesmo é dar a Palavra à Sol Sem Fronteiras. E começarmos pelos projetos que a Solsef tem no terreno.
Inovação Educativa
O projeto Inovação Educativa, já iniciado em julho de 2020, fruto da parceria da Sol sem Fronteiras (Solsef) com os Missionários do Espírito Santo em Nampula (Moçambique), tem como objetivo apoiar o desenvolvimento de capacidades da Escola Comunitária São João de Deus, com capacidade para 1555 discentes provenientes principalmente do bairro de Mutauanha, através da criação de infraestruturas escolares (biblioteca, laboratório e sala de informática) para permitir a ampliação da oferta formativa até à 12ª classe. O projeto é financiado graças às campanhas de angariação de fundos promovidas pela Solsef junto dos Jovens Sem Fronteiras (JSF), das Campanhas de Solidariedade da Família Espiritana e conta ainda com o apoio da Misereor.
Capacitação Pedagógica
O projeto Capacitação Pedagógica, já iniciado em janeiro de 2021, fruto da parceria da Solsef com a Cáritas Diocesana de Bafatá, tem como objetivo apoiar o desenvolvimento qualitativo da gestão pedagógica do Jardim Infantil “Santa Teresinha do Menino Jesus” (com 118 alunos e 100 alunas), da Escola “São Francisco Xavier” (com 305 alunos e 338 alunas) e do Liceu “Leopoldo Pastori” (com 170 alunos e 170 alunas), em Bafatá (Guiné-Bissau), através da capacitação do corpo docente e da direção (10 mulheres e 41 homens) e, ainda, a criação de infraestruturas de apoio. O projeto é cofinanciado pelo Camões, I.P. e conta com a colaboração da Ser Mais Valia e o Centro de Formação de Associação de Escolas CENTRO-OESTE.
Nutrição e Higiene
O projeto Nutrição e Higiene, a iniciar em junho de 2021, resultado também da parceria da Solsef com a Cáritas Diocesana de Bafatá, tem como objetivo apoiar o desenvolvimento do sistema de cantina escolar e as condições de saneamento da Escola de Ensino Básico “São Francisco Xavier” (com 305 alunos e 338 alunas), em Bafatá (Guiné-Bissau), através da criação de infraestruturas de refeição (cantina, despensa e refeitório) e casas de banho (com pavilhão masculino e pavilhão feminino separado) e ainda a ministração de formações sobre higiene e saneamento.
Música sem Fronteiras
O projeto Música sem Fronteiras, a iniciar no último trimestre do ano de 2021, promovido pela parceria da Solsef com a Congregação Santa Teresinha do Menino Jesus, visa apoiar o desenvolvimento da Banda Filarmónica do Colégio Santa Teresinha, em Boquim (Brasil), através da aquisição de novos instrumentos e fardamentos.
Missão em Kajegut
Em parceria com as Irmãs Missionárias do Espírito Santo em Caió (na Guiné-Bissau), a Solsef pretende construir e equipar um espaço polivalente na tabanca de Kajegut, para o desenvolvimento de atividades de assistência comunitária nas áreas da saúde (atendimento a mulheres grávidas e crianças lactentes, apoio a crianças desnutridas, ajuda medicamentosa, apoio às Campanhas de Vacinação Nacionais junto do hospital e realização de Campanhas de Sensibilização para a Saúde Comunitária) e da educação (alfabetização de mulheres adultas e dinamização de micro-empreendedorismos através da transformação de alimentos).
Escola Primária de NotreDame
Em parceria com as Irmãs Missionárias do Espírito Santo em Montagne Lavoûte (Haiti), a Solsef pretende apoiar a Escola Primária NotreDame (em Montagne Lavoûte, Haiti) em medidas de emergência para superar as circunstâncias vindas pela COVID-19, nomeadamente através da adaptação das mesas e dos bancos escolares às medidas de distanciamento social impostas pelo Ministério de Educação, apoio na aquisição de manuais escolares e no fornecimento de bolsas de estudo a alunos/as procedentes de famílias carenciadas.
Crescer e florir em comunidade
Em parceria com as Irmãs Missionárias do Espírito Santo em Conselheiro Pena (no Brasil), a Solsef pretende apoiar o desenvolvimento de atividades comunitárias no Centro Social Crescer e Florir em Comunidade, que apoia adolescentes entre os 12 e os 17 anos em situação de vulnerabilidade que vivem situações de rompimento de vínculos familiares e que estão sem condições essenciais de acesso à educação e saúde, através da aquisição de equipamentos de apoio às atividades do centro social.
Em que consiste o projeto no qual a Ser Mais Valia vai colaborar?
A Ser Mais Valia colabora com a Sol sem Fronteiras e a Cáritas Diocesana de Bafatá, no projeto Capacitação Pedagógica (na Guiné-Bissau), no âmbito da capacitação do corpo docente e a direção (10 mulheres e 41 homens) dos três centros escolares da Missão Católica de Bafatá: Jardim Infantil “Santa Teresinha do Menino Jesus”, Escola “São Francisco Xavier” e Liceu “Leopoldo Pastori”. A implementação do plano formativo está prevista para o ano escolar 2021-2022 e contará com três oficinas de formação lideradas respetivamente por três voluntários seniores da Ser Mais Valia: 1.-A preparação do trabalho docente (Organização, Planificação e Avaliação Curricular-Pedagógica) e a sua implementação (a prática dos processos de Ensino-Aprendizagem); 2.-Literacia informática e digital no trabalho docente e 3.-Competências transversais na docência (escola, família e sociedade). O projeto é desenvolvido graças ao cofinanciamento do Camões I.P.
Quais os países em que, neste momento, têm missões de trabalho?
A Solsef conta atualmente com uma equipa de 4 pessoas que trabalham a tempo inteiro na sede em Lisboa, uma Direção Social de 7 elementos (em regime de voluntariado) e um grupo de voluntários de aproximadamente 80 pessoas que prestam o seu apoio desde Portugal.
O trabalho da Solsef no terreno é desenvolvido graças às equipas locais das instituições com as quais estabelecemos parcerias no terreno (maioritariamente Missões Católicas). A equipa da Solsef, quer funcionárias quer voluntários, prestam apoio às equipas no terreno de forma remota ou com visitas de acompanhamento de curta ou média duração.
Atualmente, os nossos parceiros apresentam as seguintes equipas envolvidas nos nossos projetos: “Inovação Educativa”/Moçambique (2 Padres); “Capacitação Pedagógica”/Guiné-Bissau (1 Padre e 1 Técnico em Gestão de Projetos); “Nutrição e Higiene”/Guiné-Bissau (1 Padre e 1 Técnico em Gestão de Projetos); “Música sem Fronteiras”/Brasil (1 irmã); “Missão em Kajegut”/Guiné-Bissau (1 irmã); “Escola Primária de NotreDame”/Haití (1 irmã) e “Crescer e florir em comunidade”/Brasil (1 irmã e 1 Técnico em Serviços Sociais).
Como é que a vossa ação tem sido afetada pela pandemia?
A pandemia obrigou-nos a fazer uma adaptação da nossa forma de pensar e trabalhar nos projetos com uma aposta forte no trabalho remoto. Contudo, temos que pôr em destaque que os nossos projetos não pararam principalmente porque são desenvolvidos por Congregações Católicas e os missionários, independentemente de “serem” ou “não serem” originários do país onde trabalham, permaneceram no terreno apesar da pandemia. Este fato garantiu a continuidade dos projetos com ajustamentos no cronograma.
Quais os maiores desafios que se vos apresentam para os próximos anos?
No âmbito do nosso trabalho na Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, um dos maiores desafios é a luta contra a constituição de sociedades que considerem “o diferente” e “o outro” enquanto ameaça para a conservação do seu bem-estar. Lutar contra a indiferença (analgésico social) quando olhamos à dor, às necessidades ou às dificuldades “dos outros”, perto e longe, é também um desafio para a Solsef.
A pandemia pela COVID-19 vem agravar as condições sociais de muitas sociedades onde trabalhamos, pois às necessidades pré-existentes (nas áreas da educação, da saúde, do emprego, etc.) junta-se a necessidade de responder a uma emergência sanitária, sem precedentes, a partir de sistemas públicos de saúde debilitados.
Organização e recolha de José Alves Jana
